A decisão do 100º Campeonato Paranaense começa neste domingo, às 16 horas, no estádio Germano Kruger, em Ponta Grossa. Em campo, estarão os dois times mais antigos do estado: o Coritiba, com quase 106 anos de historia, e o Operário, que no dia 1º de maio (sexta-feira) completará 103 anos de vida. E mesmo com tanta tradição e títulos disputados (o Coxa já faturou a taça em 37 ocasiões, enquanto o Fantasma foi vice 14 vezes), o confronto decisivo será inédito.

Em Ponta Grossa, a expectativa é grande. Afinal, o time nunca venceu o Estadual (o máximo que conseguiu foi um título da Série Prata, em 1969) e há 54 anos não chegava até a decisão do campeonato (na ocasião, acabou sendo derrotado pelo Comercial, de Cornélio Procópio. Confira abaixo um pouco mais sobre essa curiosa historia).

Já entre os torcedores do Coxa, a motivação maior é a expectativa de retomar a taça, que no ano passado ficou com o Londrina, após quatro anos de domínio alviverde. Além disso, o título serviria como um suporte, uma afirmação do trabalho que a diretoria do clube tem feito para pagar as dívidas e também melhorar o desempenho da equipe em campeonatos nacionais, após três anos consecutivos lutando contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro.

As escalações

No Operário, o único desfalque que o técnico Itamar Schülle terá para a decisão é o atacante Douglas, artilheiro do time, suspenso após tomar o terceiro amarelo. Desta forma, a equipe do Fantasma que entrará em campo deverá ser: Jhonatan; Danilo Baia, Douglas Mendes, Juan Sosa e Jhonathan Silva; Chicão, Lucas, Pedrinho e Ruy; Juba e Joelson (Mateus Lima ou Paulinho).

Já no Coritiba, Marquinhos Santos terá de lidar com a ausência de Welinton, também suspenso, e possivelmente de Rafhael Lucas, que foi convocado para a partida, mas pode ficar de fora, abrindo espaço para a entrada de Keirrison. A provável escalação é: Vaná; Norberto, Luccas Claro, Leandro Almeida e Carlinhos; Helder, Rosinei e João Paulo; Wellington Paulista, Rafhael Lucas (Keirrison) e Negueba.

Itamar Schülle x Marquinhos Santos

Após 13 anos como treinador, o técnico Itamar Schülle tem sua primeira oportunidade de conquistar um título importante. O profissional, que fez a carreira trabalhando em clubes de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, viveu seu melhor momento até aqui no Novo Hamburgo (RS), quando foi vice-campeão da Taça Piratini (1º turno do Gaúcho) em 2012 e no ano seguinte conquistou a Copa Willy Sanvitto e o Campeonato Metropolitano.

Já Marquinhos Santos, que no começo do ano quase deixou o Coritiba para acertar com o Vasco, possui bem menos tempo de carreira (seu primeiro trabalho em times profissionais foi no próprio Coxa, em 2012), mas é mais experiente em decisões. Com apenas três anos como treinador profissional, o técnico vai para a terceira final de campeonato estadual consecutiva (em 2013, levou o caneco do Paranaense com o time do Alto da Glória, enquanto no ano passado levou o Bahia ao título estadual).

Artilheiros de fora

Para o primeiro confronto decisivo, é possível que os dois finalistas atuem sem seus artilheiros. No Coritiba, o jovem Rafhael Lucas, artilheiro do Estadual com 11 gols, é dúvida após sentir uma lesão ainda nas semifinais. Já no Operário, o atacante Douglas, autor de oito gols, é desfalque certo após tomar o terceiro amarelo.

Davi x Golias

O time mais vezes campeão do Paraná contra uma equipe que ainda luta por sua primeira taça. Coritiba e Operário farão um verdadeiro “Davi x Golias” neste domingo. Nem mesmo o técnico do Fantasma esconde o favoritismo do adversário, mas acredita que sua equipe pode surpreender.

“O favoritismo é todo do Coritiba. Eles são de Série A, nós vamos jogar a Série D. É natural que o Coritiba seja o favorito. Mas confio em meus jogadores. Mostramos força ao longo de todo o Estadual e vamos para a nossa tão sonhada final”, comentou o treinador em entrevista ao site Grande Área. ” É um jogo essencial. Temos que ter a torcida a nosso favor. O clube e a cidade vivem um momento especial. Temos que lutar. Quero o estádio cheio, nos apoiando. Nossos atletas precisam desta força de fora”, completou.

Voltando às origens

Na luta para retomar a hegemonia do futebol paranaense, o Coritiba voltará ao “marco zero” de sua historia. É que no dia 12 de outubro de 1909 o clube disputou sua primeira partida. A equipe, então formada por jovens imigrantes germânicos, encarou o Club de Foot Ball Tiro Pontagrossense, que já praticava o esporte a alguns meses. O confronto terminou com vitória por 1 a 0 do time do interior do Paraná.

No ano de seu centenário, em 2009, o clube organizou a mesma viagem, refazendo o caminho embrionário com direito a um jogo entre os times masters do Coxa e do Operário.

Campeonato Paranaense de 1961

No ano de 1961 aconteceu um dos episódios mais marcantes na história dos confrontos entre o Coxa e o Fantasma. Naquele ano, o “caso Agapito” tirou o título coxa-branca da Zona Sul do Estadual, o que deu ao time pontagrossense o direito de disputar a taça do Paranaense.

Na época, o campeonato era dividido por três zonas (Sul, Norte Velho e Norte Novo). Na final da Zona Sul, o Coxa levou a melhor. Após perder o primeiro jogo por 2 a 0 no Alto da Glória, a equipe alviverde conseguiu um empate por 1 a 1 em Ponta Grossa graças a um gol do paraguaio Agapito Sánchez, forçando uma terceira partida, disputada na Vila Capanema e vencida pelo Coxa por 3 a 0, o que levou a decisão para um quarto jogo, que terminou empatado (1 a 1), o com o time da Capital levando o título pelo saldo de gols.

O Operário, porém, conseguiu ficar com a taça na Justiça, após descobrir uma irregularidade no registro de Agapito – o atleta teria usado documentos falsos para se registrar na Federação Paranaense. O Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná (TJD-PR) inocentou o Coritiba no caso, alegando que o clube não teria responsabilidade sobre a veracidade da documentação do atleta. O Fantasma, porém, recorreu e conseguiu, após meses de espera, ficar com a taça graças a uma decisão do Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Por conta do imbróglio, a final do Estadual de 1961 foi disputada enquanto já rolava o Paranaense de 1962. E com o bom time do ano anterior já desfeito, o Operário não conseguiu ficar com a taça no triangular final, com o Comercial de Cornélio Procópio se sagrando campeão.