DIOGO BERCITO MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – A Autoridade Nacional Palestina ofereceu a liberdade ao palestino-brasileiro Islam Hamed, 30, caso a família aceite assinar um termo responsabilizando-se pela segurança dele. A informação foi confirmada à reportagem por Ibrahim Alzeben, embaixador palestino em Brasília. Hamed faz greve de fome desde 11 de abril, pedindo a libertação do que considera uma prisão injustificada. Ele está, hoje, preso na cidade de Nablus, na Cisjordânia. “Ele é procurado pelas autoridades israelenses, que dizem ter contas pendentes para acertar com ele”, afirma Alzeben. “Tememos pela vida dele [caso seja solto].” Segundo o embaixador, a Autoridade Nacional Palestina está disposta a libertar Hamed assim que a família assine o termo de responsabilidade. “Mas nós não podemos garantir que ele não seja detido por Israel”, diz. Nadia Hamed, 52, mãe do jovem, afirma no entanto que não irá se responsabilizar pelo filho, que considera um “preso político”. “Os palestinos são culpados por Israel estar atrás do meu filho. Eles têm de garantir a segurança dele, seja na prisão ou livre.” Ela pede, ademais, que o governo brasileiro assuma a responsabilidade por Hamed, garantindo que possa deixar a prisão e ir ao Brasil. A representação diplomática brasileira em Ramallah insiste que Hamed seja solto, pois a sua sentença já foi cumprida e, dessa maneira, sua detenção é considerada ilegal desde setembro 2013. PRISÕES O jovem palestino-brasileiro foi detido por Israel aos 17 anos, acusado de arremessar pedras e coquetéis molotov. Foram cinco anos. Depois de nove meses livre, ele voltou a ser detido, então pela criticada prática de “detenção administrativa” israelense -em que uma pessoa pode ter sua pena renovada, sem haver uma acusação clara. Depois de um curto período de soltura, Hamed foi então detido pela Autoridade Nacional Palestina em 2010, após ter se casado e tentado, sem sucesso, viajar ao Brasil (“os judeus não deixaram”, segundo sua mãe, Nadia). O jovem fazia parte da oposição ao governo palestino. A família afirma que Hamed deveria ter sido solto em 2013, mas é mantido preso sob a alegação de que é por sua segurança. “Às vezes penso que ele está preso devido à guerra entre Fatah e Hamas. Eles têm raiva porque Hamed apoia o Hamas.” Há forte oposição entre as facções Fatah, que governa a Cisjordânia, e Hamas, que tem o poder na faixa de Gaza. A família Hamed identifica-se com o Hamas, que é considerado por Israel como uma organização terrorista. A família já pediu auxílio da representação diplomática brasileira em Ramallah, que o visitou na detenção nesta segunda-feira (27). Ele mantém a greve de fome, mas aceitou beber água. FAMÍLIA Nadia Hamed nasceu em Catanduva, São Paulo, e imigrou à Cisjordânia aos 19 anos para aprender língua e religião e casar-se. Ela é filha de pai palestino e mãe brasileira. Tem quatro filhos, mas apenas Islam e o irmão Bilal têm a cidadania brasileira. A família vive de agricultura, na região de Ramallah, e Nadia trabalha também como costureira. “Nossa vida está aqui. É nossa terra”, diz. Hamed, porém, quer ir ao Brasil caso seja libertado. Enquanto aguarda a soltura, Hamed estuda na prisão. Ele começou um curso de inglês, mas trocou pelo de religião. Segundo a família, as autoridades palestinas têm impedido que os professores entrem no centro de detenção para que o jovem possa fazer os exames do curso. “Ele não fez nada contra os palestinos”, diz Nadia, sua mãe. “Tudo o que ele fez foi contra os israelenses, para defender a terra dele.”