Quebro a Petrobrás, mas me reelejo, em dezembro de 2013, era o titulo do meu artigo vaticinando o que ocorreria com a maior empresa da América Latina. Dizia que a anomia, caracterizada pela desintegração das normas que regem a conduta empresarial, estava destruindo a empresa. Era usada como biombo da inflação. O desalinhamento dos preços dos combustíveis obrigava a Petrobrás a importar derivados de petróleo a preços altos e vender no mercado interno a preços baixos, prejuízo estimado em R$ 80 bilhões pela estatal. Estrangulando o seu caixa e elevando o endividamento ao recorde atual. No início do governo Rousseff a dívida bruta era de R$ 115 bilhões, hoje é de R$ 351 bilhões. Uma empresa sólida e lucrativa foi levada a um estágio de quase ruína. E farta publicidade anestesiando a consciência crítica dos brasileiros.
Os governos Lula e Dilma capturaram a Petrobrás para os seus objetivos de militantes e produziram o desastre. É obra de gigante incompetente quebrar uma empresa petrolífera. Há um século, o pioneiro do petróleo nos EUA, John D. Rockefeller sentenciou: O melhor negócio do mundo é uma refinaria bem administrada; o segundo melhor negócio é uma refinaria mal administrada; e, o terceiro é uma refinaria pessimamente administrada. No Brasil o inacreditável aconteceu e a matriz foi a incompetência, a corrupção e o aparelhamento da estatal. O jornalista Josias de Souza, no seu blog (23-4-2015), registrava: Essa ruína tem nome(s): Lula e Dilma. A Petrobrás, por delegação de Lula, está sob a alçada de Dilma desde a chegada do PT ao poder federal, em janeiro de 2003. Primeiro, ela foi ministra das Minas e Energia, de cujo organograma pende a Petrobrás. Depois acumulou as atribuições de supergerente da Casa Civil com a presidência do Conselho de Administração da Petrobrás. Em seguida, como presidente da República, centralizou todas as funções anteriores.
A sequência das tramóias para sustentar o projeto de poder, usando a Petrobrás, não tinha um único vetor: eram vários. Oficializado no dia 22 de abril, quando a sua diretoria-interventora, dizendo-se envergonhada, reconheceu um prejuízo de R$ 21,6 bilhões em 2014, ante um lucro registrado em 2013, de R$ 23,4 bilhões. O resultado negativo decorreu das perdas com desvalorização de ativos, da ordem de R$ 44,6 bilhões e mais R$ 6,2 bilhões em valores desviados no propinoduto investigado pela Operação Lava Jato. Retratando que a desqualificação profissional e a incompetência gerencial nas obras faraônicas e mal planejadas foi quase 8 vezes maior do que o roubo institucionalizado pelos seus diretores delinquentes e empresários poderosos.
O esquartejamento da Petrobrás, quinta maior empresa de petróleo do mundo em ativos, teve patronos poderosos. Em 7 de outubro de 2010, em Angra dos Reis, o então presidente Lula da Silva discursava: No nosso governo a Petrobrás é uma caixa branca e transparente. A gente sabe o que acontece lá dentro. E a gente decide muitas coisas que ela vai fazer. O Diário Oficial da União, de 26 de novembro de 2010, transcreve a Mensagem, nº 41, da Casa Civil, ocupada por Dilma Rousseff, onde o presidente da República mandava ao Congresso veto contra a decisão do TCU (Tribunal de Contas da União) que bloqueava o pagamento de contratos suspeitos na Petrobrás. O veto presidencial liberou R$ 13,1 bilhões, sendo R$ 6,1 bilhões para a refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Ante esses fatos documentados os dois não podem agora se esconderem na cegueira do mantra: eu não sabia.
A dupla jogou a empresa em rota perigosa, com a saúde financeira na UTI, e a imagem e credibilidade no chão. O caminho da recuperação será espinhoso, com impacto direto na economia brasileira. Com a publicação do balanço, além do prejuízo recorde, o endividamento asfixiante aponta um sinal vermelho para o futuro. O presidente Aldemir Bendine reconheceu que a Petrobrás vai carregar por cinco anos um nível de endividamento acima do razoável. Demonstrando que ela foi vítima da vigarice, onde o cinismo e a rapinagem passaram a ser programa de governo. Levando o procurador-geral da República, Rodrigo Janot a afirmar: Essas pessoas roubaram o orgulho dos brasileiros.

Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (Unesp)