SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Robert Ménard, prefeito de Béziers, cidade no sudoeste da França, suscitou polêmica e indignação após ter confirmado, nesta terça-feira (5), ter criado um arquivo que recenseou crianças muçulmanas inscritas nas escolas da cidade.
Proibido pela lei francesa, o recolhimento de estatísticas étnicas é um ato punível com 5 anos de prisão e 300 mil euros de multa.
Menard será ouvido nesta quarta-feira (6) em Montpellier pelo Serviço Regional de Polícia Judicial.
Convidado a participar de um debate na televisão pública France2, Menard, afiliado ao partido Frente Nacional (FN) declarou, na segunda-feira (4), que há exatamente 64,6% de muçulmanos na cidade que governa.
Ele confessou ter contabilizado, turma por turma, os nomes das crianças que seriam, de acordo com ele, de confissão muçulmana.
“Desculpem-me, mas nomes revelam a fé. Dizer o contrário seria negar uma evidência”, disse Menard ao fim da emissão.
A investigação, que foi iniciada nesta terça-feira (5) pelo procurador da República em Béziers, Yvon Calvet, começou com a investigação dos escritórios da prefeitura na busca de documentos que atestem a existência de
arquivamento.
POLÊMICA
“O recenseamento dos alunos é contrário a todos os valores da República”, declarou o presidente francês, François Hollande, em entrevista na Arábia Saudita.
“Tenho vergonha do prefeito de Béziers”, disse o premiê Manuel Valls em sua conta no Twitter. “A República não faz nenhuma distinção entre as crianças”, adicionou.
“A extrema direita não mudou, não renegou seu passado e suas práticas”, comentou Valls na Assembleia Nacional. “Tais atos não podem ficar sem consequências. Agora o prefeito de Béziers tem que responder perante a Justiça».
Em resposta as declarações que foram feitas pelo governo, Menard, eleito em 2014, criticou a “hipocrisia do governo socialista” e disse que “sem estatísticas sobre a questão dos sexos nunca teríamos podido avançar em direção à igualdade entre homens e mulheres”.
Braço direito de Marine Le Pen e um dos vice-presidentes da Frente Nacional, Florian Philippot defendeu Menard. “O que ele fez não foi uma operação de fichamento, ele apenas olhou para os nomes, não é um escândalo”, disse.
Do outro lado, Cécile Duflot, ex-ministra e deputada ecologista, pediu na Assembleia a demissão do prefeito.
O Conselho Francês do Culto Muçulmano se disse “escandalizado, enojado”. “Com atitudes assim, não podemos nos surpreender da revolta dos jovens.
Um integrismo alimenta um outro”, disse Abdallah Zekri, presidente do Observatório Nacional contra a Islamofobia no Conselho do Culto Muçulmano.