RODRIGO SALEM, ENVIADO ESPECIAL CANNES, FRANÇA (FOLHAPRESS) – O ator Gérard Depardieu nunca desaponta quando vem ao Festival de Cannes. Ano passado, seu “Bem-Vindo a Nova York”, dirigido por Abel Ferrrara, roubou a cena dos filmes da competição. Neste ano, o ator, que ficou famoso em todo mundo por “Cyrano” (1990), faz parte da disputa pela Palma de Ouro com o drama espiritual “Valley of Love”, de Guillaume Nicloux.

O longa pode não ter chances concretas, mas não importa. Depardieu continua atraindo às atenções, principalmente quando interpreta no filme uma versão grotesca de si mesmo. “Eu queria ser ator porque não queria trabalhar”, disparou na primeira entrevista à imprensa mundial, nesta sexta-feira (22), em Cannes.

“Notei que adoro viver com pessoas que fazem esse trabalho. Atuar para mim é puro prazer, simplifica minha vida e ganho muito dinheiro. É meio vulgar, mas é a verdade.” Na trama, Depardieu e Isabelle Huppert, que interpreta sua ex-mulher, viajam pelo “Vale da Morte”, uma das atrações turísticas mais conhecidas da Costa Oeste americana, seguindo as instruções do filho morto -ele promete aparecer no fim da jornada. O roteiro é ainda mais pessoal para o ator, que perdeu o filho, Guillaume, há sete anos, em um acidente de moto.

“Eu consigo entender o luto por um filho, mas isso não deixou o papel mais complicado de interpretar”, confessou ele. Aos 66 anos, o ator francês é perguntado até sobre o estado de tensão entre Rússia e Ucrânia. Dono de vinícolas na Ucrânia e tendo morado um tempo em Moscou para evitar impostos na França, Depardieu falou que “é como todo mundo”. “Odeio conflitos. Conheço Sr. Putin bem, gosto dele e ainda vou sempre à Rússia”, falou ele, logo emendando com uma frase mais polêmica. “O que posso falar? Se a Crimeia fosse os Estados Unidos, a coisa seria tratada de maneira diferente.”