SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As ações de bancos, setor com maior peso dentro do principal índice da Bolsa brasileira, caíram mais de 1% nesta sexta-feira (22), refletindo o aumento da alíquota da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido) dessas companhias de 15% para 20%. Junto com a Petrobras, esses papéis empurraram o Ibovespa para o vermelho.

O Itaú Unibanco teve baixa de 2,11%, para R$ 35,30, enquanto o papel preferencial do Bradesco (sem direito a voto) recuou 2,12%, para R$ 29,10. O Banco do Brasil mostrou desvalorização de 5,20%, para R$ 23,35, e o Santander cedeu 1,02%, para R$ 16,56.

“O aumento já era esperado, por isso as ações das instituições financeiras vinham recuando desde o início da semana”, disse Marcio Cardoso, sócio-diretor da corretora Easynvest. “Além de ser benéfico para o governo, que vai arrecadar mais dinheiro, a alta também tem intuito político: mostrar que todos serão penalizados com o ajuste, até mesmo os bancos.”

As medidas de ajuste fiscal, segundo Cardoso, são positivas, mas há ressalvas. “Não é o melhor ajuste. O governo poderia cortar mais gastos públicos. Mesmo assim, já é favorável o fato de as medidas estarem ‘saindo'”, afirmou. Nesta tarde, o governo anunciou que vai bloquear R$ 69,9 bilhões em despesas orçamentárias.

O BTG avaliou em relatório que os bancos conseguirão contrabalançar o aumento do imposto com créditos tributários, mas ponderou que ainda não está claro quanto nem quando. Já a equipe do UBS calculou efeito médio negativo no lucro por ação de 7,8% dos quatro bancos sob sua cobertura, sendo maior no Banco do Brasil (9%). A equipe de análise do Credit Suisse avaliou em relatório que o aumento na CSLL pode gerar, em média, queda de 5,4% no lucro dos bancos e de 5,6% no lucro das seguradoras em 2016. As ações de BB Seguridade (-3,34%, para R$ 33,83), Porto Seguro (-4%, para R$ 35,80) e Sul América (-4,69%, para R$ 13,63) fecharam no vermelho.

O recuo dos bancos e seguradoras ajudou a empurrar o principal índice da Bolsa brasileira para baixo. O Ibovespa teve desvalorização de 1,33%, para 54.377 pontos. O volume financeiro foi de R$ 7,778 bilhões. Na semana, o Ibovespa caiu 5,02%.

A Petrobras também teve um dia negativo, com suas ações preferenciais em baixa de 2,75%, para R$ 13,08, enquanto as ordinárias (com direito a voto) caíram 2,22%, para R$ 14,10 cada uma. Os papéis acompanharam a queda nas cotações do petróleo no mercado internacional. A valorização das ações da Vale não foi suficiente para sustentar o Ibovespa no azul, mas amenizou sua baixa. Os papéis preferenciais da mineradora ganharam 1,31%, para R$ 17,05 cada um, na esteira da recuperação dos preços do minério de ferro no mercado à vista da China –principal destino das exportações da companhia brasileira. Eles chegaram a subir mais de 2% ao longo do dia.

As companhias do setor educacional, que começaram o dia no azul refletindo a aprovação pela Comissão de Educação da Câmara dos Deputados para utilização do Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) em cursos de ensino à distância, fecharam em queda. A Kroton perdeu 0,32%, para R$ 12,56, enquanto a Estácio teve baixa de 0,53%, para R$ 18,90. O setor sofreu corte de R$ 9,4 bilhões no Orçamento para este ano.

CÂMBIO

No câmbio, o dólar fechou em alta em relação ao real, após a presidente do Federal Reserve, Janet Yellen, afirmar que o banco central dos Estados Unidos caminha para elevar o juro básico daquela economia ainda neste ano. Além disso, um indicador mostrou que a inflação americana está acelerando, um bom sinal para o Fed, que está preocupado com o baixo nível dos preços.

O receio do mercado é que, por causa disso, o Fed fique mais propenso a começar a subir os juros naquele país antes do previsto pela maioria dos analistas –entre setembro e dezembro deste ano. A ata da última reunião da autoridade monetária americana enfatizou, no entanto, que o aumento não deve ocorrer no encontro de junho. Uma alta do juro americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA –que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco– mais atraentes do que aplicações em mercados emergentes, provocando uma saída de recursos dessas economias.

A menor oferta de dólares tenderia a pressionar a cotação da moeda americana para cima. A Fed Funds Rate (taxa de juro americana) está em seu menor patamar histórico desde 2008, entre 0% e 0,25% –uma medida do Fed para tentar amenizar os efeitos negativos da crise financeira. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,04% sobre o real, cotado em R$ 3,070 na venda. Na semana, houve alta de 2,74%. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, avançou 1,67% no dia e 3,24% na semana, para R$ 3,095.

LEILÕES

Além do possível aumento de juros nos EUA, a sinalização de que o Banco Central do Brasil deve reduzir suas intervenções no mercado cambial em junho tem limitado o espaço para quedas do dólar. Nesta sexta, a autoridade monetária brasileira rolou para 2016 os vencimentos de 8,1 mil contratos que estavam previstos para o início de junho, em um leilão que movimentou US$ 392,9 milhões. A operação é equivalente à venda futura de dólares. Se mantiver esse ritmo até o final de maio, o BC rolará apenas 80% do lote total de contratos de swap com vencimento no início do próximo mês, que corresponde a US$ 9,656 bilhões. Nos meses anteriores, a rolagem estava sendo de 100% dos contratos.