SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ter a vida transformada em uma cinebiografia trouxe à tona esqueletos do passado do matemático John Nash, morto neste sábado (23), aos 86 anos, em um acidente de táxi.
Entre 2001, quando o filme estreou, e 2002, quando ganhou quatro dos oito Oscar a que concorreu (melhor filme, melhor roteiro adaptado, melhor diretor e melhor atriz coadjuvante), o matemático que sofria com esquizofrenia viu seu passado ser destrinchado pela imprensa.
Descobriu-se que ele teria tido experiências homossexuais, o que ele negou, que teve um filho fora do casamento com uma ex-enfermeira, o que é verdade, e que o filho que teve em seu casamento também sofre de esquizofrenia, o que também foi confirmado.
O site do jornalista Matt Drudge, famoso pela divulgação do escândalo Monica Lewinsky, revelou ainda que Nash escreveu comentários antissemitas numa carta de 1967 reproduzida na própria biografia: “A raiz de todo o mal, pelo menos em minha vida pessoal, são os judeus”.
Em outras ocasiões, teria se referido a uma tal “conspiração Krypto-Sionista”.
A polêmica levou Nash a aceitar convite do “60 Minutes”, uma das principais revistas televisivas dos EUA, para se defender, em março de 2002. Nela, ele conta que começou a ouvir vozes aos 30 anos e que eram “como anjos”.
Ele disse que teve ideias estranhas durante a época do auge da paranoia, um sintoma comum da doença, mas negou que fosse antissemita.
Ele revelou ainda que ficara próximo do filho que teve fora do casamento e que deu a ele parte dos royalties do filme. Falou também de seu outro filho, Johnny, que na época já exibia sintomas da esquizofrenia.
A acusação chegou a ameaçar o sucesso do filme em Hollywood, um dos setores da sociedade norte-americana em que a comunidade judaica é mais atuante. Na época, especulava-se que o filme perderia todos os Oscars.
A principal defesa dos envolvidos no filme foi de que as afirmações de Nash foram feitas no auge do período de 35 anos em que ele mais sofreu as consequências da esquizofrenia.
“Na mesma época em que escreveu isso, Nash pensava que era o messias, o imperador da Antártida e a reencarnação de Jó”, disse à época Sylvia Nasar, autora da biografia do matemático -“Uma Mente Brilhante” (editora Record, 2002).