GUILHERME SETO E MARINA GALEANO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Na estreia do Palmeiras no Campeonato Brasileiro deste ano, no dia 9 de maio, no empate por 2 a 2 com o Atlético-MG, uma alteração irritou os torcedores do time alviverde no Allianz Parque. Mas desta vez a culpa não foi de Oswaldo de Oliveira.
Marcos Costi, o locutor que virou xodó da torcida desde sua estreia no dramático empate com o Atlético-PR pela última rodada do Brasileiro de 2014, não estava no microfone. Outro ocupava o seu lugar, e o vozeirão grave de Costi foi ouvido apenas algumas vezes naquela tarde, em intervenções breves.
“Foi triste, difícil. É uma coisa que gosto demais e faço com muito amor. Sei que uma hora vou sair, mas espero que não seja tão cedo”, relembra o locutor sobre o curto período em que ficou afastado.
Sua ausência temporária foi suficiente para que os torcedores palmeirenses começassem a campanha “Marcos Costi, voz do Allianz” nas redes sociais.
“Acordei assustado, porque essa hashtag estava bombando. Ganhou uma proporção imensa. Não tem como negar, fiquei muito feliz”, admite.
Costi tem 33 anos, é paulistano, jornalista de formação e trabalha na área de comunicação da Maurício de Sousa Produções. Mas em uma conversa com ele, fica-se sabendo disso somente depois de uns dez minutos. Antes de tudo, descobre-se que Costi é palmeirense.
Torcedor do clube “desde antes de nascer” (seus pais se conheceram no estádio do Canindé em um jogo entre Palmeiras e Portuguesa), ele anda o tempo inteiro com alguma vestimenta da equipe à mão: camisa, agasalho -“nunca se sabe quando posso precisar”. Costi torce para o time desde sempre, o tempo inteiro.
E isso o fez cair nas graças da torcida. “Meus iguais”, diz ele.
Costi não tem formação profissional como locutor nem recebe para fazer esse trabalho: “eu sou uma extensão da arquibancada”.
Ele chegou ao posto após indicação de um amigo que é conselheiro do Palmeiras, que o colocou em contato com Ricardo Galassi, diretor do estádio.
“Nunca achei que ele fosse me convidar de fato, mas foi a realização de um sonho antigo”, diz Costi, que se define como um “radialista frustrado”.
Nos jogos, ele é responsável por anunciar as escalações, cartões e substituições, a quantidade de torcedores no estádio, a renda e, claro, os gols.
“No primeiro jogo, eu estava com medo, tenso, porque todo palmeirense sabe que a torcida é dividida, não é? É a torcida que canta, vibra e corneta”, conta, aos risos.
“Logo no primeiro nome eu estendi a vogal: Praaass. E a torcida foi junto, gritando. E eu continuo fazendo isso. Fico muito feliz de agradar tantas pessoas de uma torcida bem dividida”, completa.
IMPARCIALIDADE? NÃO, OBRIGADO
Diante da campanha dos torcedores e de pedido do próprio Palmeiras à WTorre, administradora do estádio, Costi emprestou as cordas vocais para o jogo contra o Sampaio Corrêa, pela Copa do Brasil, e contra o Goiás, neste domingo (24).
Após o revés por 1 a 0 na terceira rodada do Brasileiro, porém, o vozeirão de Marcos Costi já havia perdido a potência.
“Quando o time está perdendo e você vê que não vai reagir, é complicado. Mesmo na hora de dar informações, você fica meio assim. Depois que o jogo acaba é a maior tristeza, tá louco”, explica.
Nas redes sociais, os torcedores especularam que o afastamento de Costi se devia à sua suposta falta de imparcialidade. A WTorre nega e afirma à Folha que o novo locutor foi um teste para que Costi tenha um reserva caso não possa comparecer eventualmente.
O locutor amador fanático pelo Palmeiras dá de ombros para essas tensões. O que ele quer é usar sua garganta para aproximar os “exigentes” palmeirenses, e narrar a realização de um desejo que une todos na nova casa: “títulos, é o que esperamos de 2015.”