RANIER BRAGON
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Agora ex-relator da reforma política, o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI) reclamou da decisão de enterrar a comissão especial que debateu o tema nos últimos quatro meses.
“Suspender a sessão 10 minutos antes do início foi uma completa falta de respeito”, afirmou, sobre o cancelamento da votação desta segunda.
Por entrar em conflito com pontos de vista defendidos pelo presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a comissão encerrou seus trabalhos nesta segunda-feira (25) sem votar um relatório.
Com isso, Cunha levará a reforma diretamente ao plenário.
Marcelo Castro, que havia sido alçado à função de relator por Cunha, disse que o gesto do colega foi “autoritário e desrespeitoso” e que um trabalho de meses será substituído por um texto feito em cinco minutos.
Ele será substituído por Rodrigo Maia (DEM-RJ), que presidiu a comissão.
DITADURA
A articulação de Cunha para enterrar os trabalhos da comissão deixou alguns integrantes indignados. O petista Henrique Fontana (RS) acusou o presidente da Câmara de agir de forma ditatorial.
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) afirmou que prevaleceu “mais uma vez a vontade imperial do presidente Eduardo Cunha” e que a comissão foi “esfaqueada”, tendo todo seu trabalho jogado no lixo.
Ao responder as críticas, Cunha disse que a decisão de barrar o trabalho da comissão foi tomada pelos líderes partidários, que seriam contra as propostas que vinham sendo adotadas pelo colegiado. Disse também que falar em ato ditatorial é chamar todos os lideres partidários de ditadores.
Cunha argumentou ainda que a aprovação de um relatório poderia engessar a votação em plenário.
DIVERGÊNCIA
O presidente da Câmara bateu de frente com a comissão em pelo menos duas ocasiões.
A primeira foi quando houve a ameaça de o grupo não aprovar o sistema eleitoral distritão, bandeira do PMDB.
A segunda foi quando o colegiado decidiu mexer no mandato dos senadores, atitude classificada pelo presidente da Câmara como “falta de inteligência política”.
SISTEMA ELEITORAL
Agora, o plenário deverá escolher o novo modelo pelo qual são eleitos os deputados.
O distritão, bandeira do PMDB de Cunha, é criticado por quase toda a ciência política por fragilizar ainda mais os partidos e dificultar a já trabalhosa eleição de representantes de minorias para o Congresso. Nesse modelo, são eleitos os mais votados em cada Estado.
O modelo atual, o proporcional, leva em conta toda a votação dada nos candidatos de um partido ou coligação, além do voto na legenda, para distribuir as 513 cadeiras da Câmara dos Deputados.
Já o distrital-misto, defendido pelo PSDB e pelo PT, elege metade dos candidatos pelo sistema atual (a partir de uma lista fechada de candidatos definida pelos partidos) e a outra metade pelo voto majoritário por região dos Estados.
O chamado voto em lista fechada, que era a opção predileta do PT, não tem chance de aprovação. Nele, o eleitor vota em uma lista de candidatos definida previamente pelos partidos políticos.