Era 11 de outubro de 1996. Madrugada. O telefone toca na casa do músico Dado Villa-Lobos. Do outro lado da linha, avisam sobre a morte de Renato Russo. Com o empresário da banda, ele foi para a casa do amigo, em Ipanema, no Rio, onde encontrou o pai dele, seu Renato, quieto e resignado. Durante o café da manhã, numa confeitaria do bairro, Dado ouviu do tio do vocalista histórias de Renato ainda criança. Desse dia, Dado lembra também do assédio da imprensa e da tristeza profunda dos fãs, que se manifestaram entre choros copiosos e coros com as canções do grupo. “O Renato havia partido, e a banda de rock mais popular do País automaticamente se desfazia.”

Assim tem início o livro Dado Villa-Lobos – Memórias de Um Legionário, escrito por Dado, guitarrista da Legião Urbana, com os historiadores Felipe Demier e Romulo Mattos e que será lançado hoje.

Mais do que uma biografia, é um livro de memórias, ressalta o músico. E por que iniciar a obra com aquele fatídico dia? Segundo Dado, começar dessa forma, com um momento específico, foi opção já observada em outras publicações do gênero, como Life, de Keith Richards.

É a primeira vez que a história da Legião Urbana é reconstituída em um livro sob a ótica de quem estava lá dentro. Por tabela, Dado tenta esclarecer questões que, ao longo dos anos, ganharam diferentes versões ou mesmo permaneceram nebulosas. Como o caso da saída de Negrete da banda. Dado reforça, no livro, que o baixista — que morreu no início deste ano e vivia como morador de rua nos últimos tempos — comprou um sítio em Mendes, no sul fluminense, e, por causa da distância com o Rio, começou a comparecer muito raramente às gravações do álbum As Quatro Estações. Quando ele aparecia, a banda tentava conversar com ele, mas em vão.

Essa situação perdurou até o início de 1989, quando, de acordo com Dado, Renato falou para ele: “Acabou pra você. Você está fora da banda”. Essa versão derruba outras, como a de que Negrete tenha saída do grupo porque tocava mal ou de que pediu para sair.