PAULA SPERB, ENVIADA ESPECIAL
TRÊS PASSOS, RS (FOLHAPRESS) – Com pouco mais de 24 mil habitantes, a pequena Três Passos (a 389 km de Porto Alegre) amanheceu agitada nesta quarta-feira (27). Hoje, acontece a audiência com os principais suspeitos da morte do menino Bernardo Uglione Boldrini.
Apitaço, protestos e até distribuição de “santinhos” com a imagem do garoto são algumas das homenagens ao garoto, assassinado em abril do ano passado no interior do Rio Grande do Sul, aos 11 anos.
Principais suspeitos pela morte do menino Bernardo Boldrini, o médico Leandro Boldrini (pai do garoto) e a enfermeira Graciele Ugulini (madrasta dele) serão ouvidos por um juiz pela primeira vez nesta quarta.
Também prestarão depoimentos no Fórum de Três Passos (a 389 km de Porto Alegre) a amiga da madrasta Edelvânia Wirganovicz e Evandro Wirganovicz -outros suspeitos pelo crime. Bernardo foi encontrado enterrado num terreno na cidade vizinha de Frederico Westphalen. Os quatro suspeitos estão presos.
Além do apitaço, os manifestantes colocarão uma gravação com os pedidos de socorro de Bernardo, gravados por Leandro Boldrini, e recuperados pela perícia no celular do médico.
“Vamos colocar músicas feitas em homenagem ao Bernardo”, diz Juçara Petry, 55, amiga de Bernardo. O menino costumava passar vários dias na casa de Juçara. “Eu não vou entrar no interrogatório. Não sei qual seria minha reação. Mas estaremos fazendo vigília”, diz Juçara.
Em frente ao fórum onde ocorre a audiência, há dezenas de manifestantes sob uma tenda instalada na rua para proteger da chuva. Serão distribuídos 150 apitos e o grupo irá gritar “socorro”. “Socorro porque era o grito dele para sobreviver”, diz Isolda Petry Klein, 67, amiga de Bernardo.
Ela conta que costumava dar lanche todos os dias para o garoto na confeitaria da família. “Ele tomava suco e Toddynho e adorava comer mini-pizza”, conta Isolda.
Com ajuda de voluntários, inclusive do Paraná, Isolda confeccionou mais de cem lembrancinhas para distribuir antes de interrogatório. A lembrança é um pequeno terço azul junto de uma foto de Bernardo, dentro de um pacotinho. “Queremos apenas Justiça, somos pacíficos. Não desejamos vingança ou morte de ninguém”, diz.
“O Bê é um menino que olhava pra gente pedindo carinho com os olhos. A família não dava esse carinho, mas a cidade, sim. O Bê não é nosso, é do Brasil, do mundo”, diz Isolda. O corpo de Bernardo foi achado enterrado na cidade vizinha de Frederico Eestphalen, vizinha de Três Passos.
MOVIMENTO
“Hoje a cidade vai ficar cheia”, disse Glacira da Silva, 44, proprietária de um restaurante e natural da cidade. Assim como todos os demais moradores, sabe indicar à reportagem a casa onde o menino morava com os pais.
Na fachada da residência, cerca de 40 cartazes estão pendurados no portão que envolve o pátio, um dos lugares preferidos de “Bê”, como era chamado pelos amigos.
Os cartazes prestam homenagens e pedem por justiça com dizeres como “eles te calaram, agora nós somos sua voz” e “feliz dia das crianças a todos os Bernardos que ainda podem ser salvos pela Justiça”.
Um deles tem a assinatura de uma cidade a mais de 4.000 km distantes da pequena Três Passos. “Teu coração parou de bater, agora bate no mundo todo. Assinado Zizi Vovó, Natal (RN)”.
CENÁRIO
Além dos cartazes espalhados na frente da casa, quase 30 vasos de diferentes tipos de flores estão dispostos na calçada. Um deles tem uma pequena placa dizendo “Jardim do Bê”. No ano passado, uma paisagista anunciou o projeto de fazer um jardim em homenagem ao menino, já que ele sempre gostou de natureza.
Na frente da escola onde Bernardo estudava, a quatro quadras de sua casa, também há faixas em sua homenagem.
“É muito triste. Cada semana tem uma coisa nova [no caso]. Fico triste pela avó, que queria a guarda e não conseguiu. Coitadinho, era um menino bom”, disse Guerta Bender, 66, aposentada.
A audiência será acompanhada por jornalistas de 30 veículos de comunicação. A defesa dos suspeitos discorda da presença da imprensa.