Com a realização de três rodadas do Brasileirão, comecei a verificar o quanto a Copa do Mundo fez mal ao nosso futebol. Não quero falar dos desperdícios de recursos públicos nas construções das arenas multiusos, nos desvios de verbas que ocorreram e tampouco na inexistência do tão propalado legado físico pós-evento, pois essa matéria já fora com demasia explorada pela mídia.

Um evento mundial como é a Copa do Mundo trata o futebol de forma diferenciada. Nem de longe pode ser comparado às competições nacionais sejam eles quais forem. Por exemplo, querer que um torcedor de clubes de futebol seja parecido e comparado a um expectador de jogos de copa é no mínimo uma falta de inteligência. Essa comparação, simplesmente não existe porque um é o verdadeiro torcedor de futebol — aquele que faz a festa e dá brilho aos estádios — e o outro é um publico de teatro e ou cinema que eventualmente vai a um campo de futebol, (de quatro em quatros anos) e só sabe gritar Eu sou brasileiro com muito orgulho.

Obviamente que o ponto positivo é a receita alcançada nesses eventos de vulto. Enriquecem ainda mais a Fifa e teoricamente movimentam a economia dos locais sedes. Contudo, querer que haja esse mesmo procedimento em competições locais, com a mesma prática de preços de ingressos, é uma sandice sem tamanho e afugenta o torcedor. O resultado dessas ações é a baixa média de públicos em quase todos os jogos.

O verdadeiro torcedor de futebol, diferentemente do que se prega atualmente, não é somente aquele que tem condições financeiras de se associar, aquele que tem a possibilidade de estar semanalmente na platéia de um teatro. É, sim, aquele que com dificuldade entra na fila para comprar o seu ingresso e, quando consegue, o exibe como troféu. Com certeza não viu uma só partida da Copa realizada no Brasil.

Não sei o que será do nosso futebol nos próximos anos se continuar com essa mentalidade elitista e direcionada apenas a aqueles que podem consumir. As belas arenas estão sempre vazias. Os ricos são a minoria e geralmente não gostam de futebol. Quem gosta e vive intensamente esse esporte é o povão.

Um estudo feito pela Pluri Consultoria em 2014 apontou que a ocupação dos estádios brasileiros não passa dos 39%. É uma media muito baixa, em comparação às médias de países ricos da Europa como Inglaterra e Alemanha. Contudo, desconsidera a situação econômica de cada Nação que não está no topo dessa avaliação.

A pesquisa aponta uma necessidade extrema que os clubes têm de cativar os seus torcedores. Infelizmente, as ações propostas pelos clubes são apenas as associações (Sócio Torcedor) e o incremento nos preços dos ingressos. Não há criatividade além dessas ações. Creio que um bom trabalho de marketing aliado a preços mais convidativos faria com que o verdadeiro torcedor de futebol se fizesse presente.

Mauro Cesar, da ESPN Brasil, um dia questionou: Será que um consumidor das arenas, que senta nas cadeiras e saboreia o seu Cappuccino se disporá a gritar 90 minutos em um jogo às 10 da noite de uma quarta-feira com temperatura de 4 graus em Curitiba só porque tem condições de pagar? Obvio que não. Entretanto, se o ingresso for acessível, o verdadeiro torcedor de futebol lá estará e gritará até perder a sua voz para ajudar. Jogará com o seu time.

Então, vamos deixar de pensar como europeus e viver a nossa realidade. O futebol precisa de torcedores que vivam o futebol e façam festas nos estádios e não de meros expectadores que consomem nas arenas, mas não sabem a diferença de um lateral e de um escanteio.

Edilson de Souza é jornalista e sociólogo