RANIER BRAGON
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou nesta quinta-feira (28) que a proposta de acabar com a reeleição para os cargos eletivos do Executivo foi votada sem discussão adequada e que houve uma “onda” por sua aprovação que não representa, necessariamente, apoio à ideia.
A emenda à Constituição passou nesta quarta (27) no plenário da Câmara por 452 votos contra 19, com o apoio de todas as legendas, incluindo o PT.
Guimarães votou a favor, mas disse que é contra a medida. “Não tinha saída, o que adiantava, tinha uma onda no plenário”, afirmou ele, acrescentando considerar que ausência da possibilidade de reeleição é coisa de país atrasado.
A medida, que tem que passar ainda por votação em segundo turno na Câmara e pelo Senado, estabelece que os prefeitos, governadores e presidente da República eleitos em 2016 e 2018, e daí em diante, não poderão disputar um segundo mandato consecutivo.
Ou seja, os atuais governadores e prefeitos não são atingidos. Para a presidente Dilma Rousseff, é indiferente, já que ela se reelegeu em 2014 e não poderá disputar novamente em 2018.
“Ninguém pode fazer reforma política a partir de um interesse pessoal, caso contrário fica capenga, meia-sola”, afirmou, sem citar nomes.
A crítica é direcionada ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que manteve a votação do fim da reeleição no final da noite desta quarta mesmo após Guimarães e o PT pedirem o adiamento para discutir melhor o assunto.
“O distritão [modelo eleitoral rejeitado pela Câmara] e o financiamento privado das campanhas [aprovado] foram amplamente discutidos, os outros temas estão sendo votados no afogadilho, com uma pressa desnecessária. O voto a favor do fim da reeleição foi um voto da dúvida, na verdade”, afirmou o líder do governo.
IMPASSE
Nesta quinta (28), o plenário da Câmara retoma as votações da reforma política e vai discutir, pelo menos, a ampliação dos mandatos eletivos de quatro para cinco anos (no caso dos senadores, redução de oito para cinco) e a unificação das eleições -de quatro em quatro ou de cinco em cinco anos.
A ampliação do mandato para cinco anos, defendida pelo PT, deve ser barrada pelos senadores, caso passe na Câmara. Com isso, também há boa chance de os senadores rejeitarem o fim da reeleição, já que isso estava tacitamente condicionado, no mundo político, à ampliação em um ano dos atuais mandatos de quatro anos.
Guimarães disse achar que o Senado irá rejeitar o fim da reeleição e também a constitucionalização da permissão de que as empresas financiem as campanhas políticas.
O PT estuda ingressar na Justiça contra a votação que aprovou esse último ponto. Rejeitado pelo plenário da Câmara nesta terça (26), ele acabou sendo aprovado no dia seguinte devido a uma manobra do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que rompeu um acordo político que havia feito na véspera. Na ocasião, ele afirmou que o tema só seria votado uma única vez.