SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar renovou nesta quinta-feira (28) seu maior nível em dois meses, acompanhando a escalada global da divisa americana em meio a expectativas de que os juros nos Estados Unidos começarão a subir ainda neste ano e preocupações com os problemas envolvendo a dívida da Grécia. Incertezas sobre o ajuste das contas públicas no Brasil também mantinham os investidores na defensiva.
A cotação do dólar à vista, referência para o mercado financeiro, avançou pelo nono dia e foi para R$ 3,172 na venda, alta de 0,31%. É o maior valor desde 31 de março, quando estava em R$ 3,203. Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, subiu 0,60%, a R$ 3,164 -maior valor desde os R$ 3,174 registrados em 1º de abril.
“Parece que está havendo uma mudança global de patamar do dólar por causa da normalização da política monetária dos EUA. O mercado começa a achar que isso não é temporário”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno.
O dólar teve valorização sobre 14 das 24 principais moedas emergentes do mundo nesta quinta-feira (28), segundo dados da “Bloomberg”. A divisa que mais perdeu foi o rublo russo (-1,82%), seguido pelo rand sul-africano (-0,71%). O real teve a quarta maior queda.
Para analistas, o movimento é reflexo da preparação dos investidores para o eventual início do aperto monetário na maior economia do mundo, o que pode diminuir a atratividade de investimentos em outros mercados. As avaliações ouvidas pela reportagem apontam que o Federal Reserve (banco central americano) deve começar a subir o juro básico daquele país em setembro ou dezembro.
Uma alta do juro americano deixaria os títulos do Tesouro dos EUA -;que são remunerados por essa taxa e considerados de baixíssimo risco- mais atraentes do que aplicações em mercados emergentes como o Brasil, provocando uma saída de recursos destas economias. A menor oferta de dólares tenderia a pressionar a cotação da moeda americana para cima.
O cenário é agravado pela perspectiva de menor intervenção do Banco Central do Brasil no câmbio. Nesta quinta (28), a autoridade monetária rolou para 2016 os vencimentos de 8,1 mil contratos de swap que estavam previstos para o início de junho, em um leilão que movimentou US$ 394,9 milhões. A operação é equivalente à venda futura de dólares.
FISCAL
Internamente, o ajuste para reequilibrar as contas públicas do Brasil seguem no radar do mercado. Apesar de o governo já ter vencido importantes batalhas, com aprovação de algumas MPs (medidas provisórias) nesta semana, analistas dizem que ainda há muito trabalho a fazer para que o país consiga cumprir a meta de superavit de 1,1% do PIB em 2015.
Dados divulgados pelo Tesouro Nacional nesta quinta-feira (28) sobre o desempenho das contas do governo no primeiro quadrimestre evidenciam o desafio que a equipe econômica enfrenta. Em abril, o governo federal economizou R$ 10,1 bilhões para o pagamento de juros. Foi o melhor resultado do ano, mas 39% inferior ao saldo do mesmo mês de 2014, ano em que as contas públicas registraram um deficit inédito.