São três mil e trezentos metros feitos de pessoas. De quem corre para o trabalho, quem atravessa a cidade, quem tem boca maldita, quem carrega sacolas, quem quer comprar flores. A Rua XV de Novembro tem em seu nome um tributo à data da Proclamação da República.  Preciso levar isso em um alfaiate do Tijucas.

Sendo uma das principais artérias de Curitiba, é impossível percorrer sua extensão sem se esbarrar em alguém, ainda mais quando nos apertamos nas marquises se escondendo da chuva. O calçadão de petit pavê foi o primeiro no Brasil reservado às pessoas. Pausa para um café.

Com uma concepção humanista, em 1972 as autoridades defendiam uma cidade para o povo e não os automóveis. A década em que o Brasil sofria com a severidade de regime militar foi colorida por flores. A indumentária tinha caráter de protesto, embalada pelo tropicalismo de Caetano Veloso. Preciso de um descanso rápido, sento no banco de madeira.

Naquela época assim como hoje, o movimento das mulheres, antes em ondas, procurava consolidação. Questionava agora o mercado de trabalho, mas principalmente sua expressão de sexualidade. É durante essa década que começam a surgir cortes sem gênero nas roupas. Me encontra ali no Bondinho.

Assim, as calças, compridas com boca de sino dão espaço para o movimento das enormes plataformas enquanto na pista de dança, seja para homens ou mulheres. Era preciso de conforto para dançar nas baladas disco, assim como é impossível andar pela XV de salto. Tem feirinha na Osório hoje?

A busca pela naturalidade estava na pele. Maquiagem suave em tons terrosos, lábios brilhantes de gloss e cílios longos. As estampas étnicas em tecidos sintéticos, procuram contato com a natureza e uma forma não agressiva de se vestir.

Os estilos são tão diversos como os andantes da Rua XV, não há uníssono visual, mas uma caótica explosão de vivências. Queríamos e ainda queremos mudança. Quando o mundo estagna é no movimento das franjas que buscamos respiro. Se a cidade parece cinza, que o colorido fique por conta das flores. Borboleta 13!


DETALHES

Chapéu Floppy
Eternizado por Brigitte Bardot, sua base é redonda com as abas largas e maleáveis. É considerado peça essencial da tendência boho chic

Boca de sino
Na releitura ganha o nome de Flare. As calças de boca larga eram símbolo hippie, mas também adentrava os espaços disco. Depois de anos com calças skinny, a silhueta larga volta a ganhar nossas pernas

Franjas
Com aparições fortes nos anos 1920, ganha uma releitura folk em Janis Joplin, Jimi Hendrix e outras personalidades musicais da década de setenta

Estamparia
Com temáticas ligadas ao meio ambiente ou referências étnicas, as estampas ocupavam longas saias e eram repletas de cores

 

* A produção é em parceria com o portal Even More. A jornalista Carmela Scarpi assinou o styling colorido e geométrico. Na defesa do que é produzido localmente, as peças são todas de estilistas curitibanos, algo que Carmela incentiva desde suas primeiras linhas de escrita. A direção executiva ficou nas mãos delicadas de Harriete Scarpi, complementada pela beleza da astuta Cristina Maciel. O olhar atento de Anderson Miranda enquadrou a Rua tradicional de Curitiba que ganhou o movimento das marcas: NovoLouvre, MaisEDKA, Rodrigo Alarcón, Scarpi, Jacu e Reptilia.