No Dia Mundial da Conscientização Contra o Abuso de Idosos, lembrado hoje (15), a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia alerta para os problemas de acesso das pessoas idosas à moradia digna. Segundo o geriatra e presidente da entidade, João Bastos Freire Neto, o idoso deve ter direito de cuidado da família e apoio de todas as estruturas do Estado para que ele seja bem tratado em casa.

Não é fácil cuidar de uma pessoa idosa, exige custos sociais e econômicos, é preciso que o Estado esteja junto, com serviços de saúde, porque aquele idoso mais dependente é o que está mais sujeito aos maus tratos. Temos que agir para que a família tenha qualidade de assistência ou daremos chance para que as situações de negligência aconteçam, disse.

Ele explica que, aumentando a possibilidade de maus tratos, a pessoa idosa acaba indo mais vezes para o hospital, gerando custos para a família que acaba recorrendo às instituições de longa permanência. E aí a quantidade de instituições está abaixo da demanda, da mesma forma que temos uma baixa qualidade de atendimento. A percepção que nós temos é que há uma demanda, já que temos uma população de 23 milhões de idosos. Considerando que uma pequena parte dessa população tem perda de autonomia, significa que estamos muito aquém com os cuidados em casa.

Um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), de 2010, mostra que há no Brasil aproximadamente 3.295 instituições, sendo a maioria de natureza filantrópica (65,2%) e 6,6% públicas. Nas instituições pesquisadas residem cerca de 100 mil pessoas, das quais 84 mil são idosas, o que representa menos de 1% da população idosa brasileira. Por outro lado, 3,1 milhões de idosos frágeis residem com a família, dependendo de seus cuidados.

Segundo a pesquisadora do Ipea e coordenadora da pesquisa, Ana Amélia Camarano, dois problemas cruciais atingem essas instituições, a falta de apoio e de recursos dos governos federal, estaduais e municipais e o fechamento dos hospitais psiquiátricos. Os doentes psiquiátricos idosos acabam sendo levados para essas instituições, que não estão preparadas para isso e acabam tendo um risco de violência muito grande, disse.

Para o diretor do Conselho Regional de Serviço Social de São Paulo, Fábio Rodrigues, temos hoje uma sociedade violenta que não se restringe aos idosos. É uma sociedade competitiva que exclui e acaba atingindo mais aqueles que estão fora do mercado de trabalho de alguma forma. Ele ressaltou também a precarização das políticas públicas de atendimento ao idoso.

Segundo Fábio Rodrigues, a maioria dos casos de violência ocorre dentro da própria casa e não tem quem olhe por isso. Há delegacias de denúncias, mas os serviços de atendimento de denúncias não estão a contento, disse. Para o diretor, são preciso mais equipamentos, como os centros de Referência da Assistência Social e os centros de Referência Especializado de Assistência Social, e que sejam regionalizados, até porque há idosos vulneráveis na sua situação econômica, e a pobreza acaba sendo uma violação de direitos.