Depois da humilhante derrota para a Alemanha na Copa do Mundo, no ano passado, instalou-se no Brasil um fórum permanente de discussões sobre a necessidade de uma mordenização do futebol brasileiro.
O péssimo desempenho da Seleção Brasileira fez com que os acadêmicos do futebol entrassem em cena com soluções prontas para salvar o nosso futebol.
Os títulos conquistados são totalmente irrelevantes para os autointitulados intelectuais da bola. Esquecem que somos pentacampeões de futebol sem precisar imitar o chato e quadrado futebol europeu. Particularmente não gosto e não tenho paciência de ver aquele festival de linhas dentro de campo parecendo um jogo totó jogado por robôs.
Creio, sim, e concordo que haja a necessidade de um melhor planejamento esportivo para as próximas competições. Que o modelo de gestão adotado pelos clubes, com amadores do departamento do futebol, não seja o ideal. Também discordo que o clube deva entregar todas as decisões do departamento de futebol nas mãos de um gerente com amplos poderes.
Dentro de campo, querer que sejamos uma copia do futebol europeu não passa de uma falácia e oportunismo. Só ganhamos alguma coisa quando jogamos o nosso futebol.

É preciso que se faça uma separação nas frentes de trabalho. O que deve ser feito imediatamente é promover uma devassa nas contas dos clubes. Para encontrar os erros é necessário conhecer a fundo a vida daqueles que estão no futebol e enriqueceram rapidamente ao passo que o clube encontra-se em queda financeira, muito próximo da miséria. Como pode um administrador entrar no clube com condições financeiras medianas e, quando sai, deixa o cofre vazio e sua conta bancaria fazendo inveja para muitos milionários?
Entretanto, não sou daqueles que pensam que as questões administrativas, recheadas de falcatruas e geridas por pessoas despreparadas, tenham o mesmo peso das realizações dentro dos gramados.

No campo, o nosso desempenho não tem relação direta com modernização. Há uma total inexistência de craques, excetuando-se Neymar. O que vivenciamos é uma crise técnica pela dificuldade na formação de jogadores provocada pela Lei Pele.
Nos bastidores, não há segurança para os clubes formarem seus jogadores e tê-los à disposição por um período que pague o investimento. Os atletas conseguem um breve destaque e são vendidos para clubes do exterior para concluir as suas formações e muitos são esquecidos. No entanto, o modelo adotado a seguir em uma eventual mudança não pode significar um retrocesso.

Então, para que os clubes consigam sustentabilidade e sejam rentáveis e possam competir com o mercado internacional, necessário se faz uma mudança gerencial e de conceito. Nesse ponto podemos mudar e inserir os CEOs da vida.
Contudo, no campo, há a necessidade da inserção de mais profissionais que conheçam o futebol, que tenham vivido o futebol e não façam parte de um grupo de intelectuais da bola. Futebol pode ter gestores administrativos, porém não pode jamais ser gerenciado no campo por pessoas que conhecem futebol apenas por meio de videogame.

Edilson de Souza é jornalista e sociólogo