AGUIRRE TALENTO BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A defesa do dono da UTC, Ricardo Pessoa, avisou à CPI da Petrobras que ele está proibido de se manifestar publicamente sobre sua delação premiada, que ainda está sigilosa -por isso não falará se for chamado pela comissão. O presidente da CPI, deputado Hugo Motta (PMDB-PB), enviou ofícios à PGR (Procuradoria-Geral da República) e ao STF (Supremo Tribunal Federal) perguntando se Pessoa já poderia ser convocado. Os ofícios ainda não foram respondidos, mas a tendência é que o pedido seja negado. A informação dada pela advogada Carla Domenico à CPI é que Pessoa está “terminantemente proibido” de se manifestar até que as autoridades competentes retirem o sigilo da sua delação. O termo de colaboração premiada de Pessoa foi aceito pelo STF na quinta-feira (25). Na sexta (26), a revista “Veja” afirmou que Pessoa detalhou contribuições feitas para 18 campanhas políticas, incluindo repasses de R$ 15 milhões para o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e de R$ 750 mil ao ex-deputado José de Fillipi (PT-SP), que foi tesoureiro da campanha de Dilma Rousseff em 2010 e hoje é secretário da administração do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT). Parlamentares defenderam a convocação de Pessoa na sessão desta terça (30) da CPI, mas concordaram que ele só deve ser chamado quando puder se pronunciar sobre os fatos. Também defenderam que precisam antes ter acesso aos depoimentos do empreiteiro em sua delação, para poderem questioná-lo de posse dessas informações. Integrante da CPI citado como beneficiário de R$ 150 mil provenientes de propina doados por Pessoa, segundo a revista “Veja”, o deputado Julio Delgado (PSB-MG) fez uma defesa enfática da convocação do empreiteiro e rebateu as acusações, afirmando que captou legalmente a doação como presidente do PSB de Minas e que repassou os recursos a outros candidatos da legenda. Delgado afirmou aos parlamentares que, por uma questão de coerência, já que havia defendido o afastamento de outros deputados citados nas investigações da Lava Jato, quer continuar na CPI até ouvir o empreiteiro e, depois disso, vai se afastar para se defender. “Que eu possa ficar na CPI até aguardar a vinda desse cidadão e depois disso eu vou pedir licença para fazer a minha defesa”, declarou. DILMA A presidente Dilma afirmou nesta segunda (29) em Nova York, referindo-se ao depoimento de Pessoa, que “não respeita delator”. Ela negou que tenha recebido dinheiro ilícito em sua campanha. Em delação premiada, Pessoa disse que doou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma por temer prejuízos em seus negócios com a Petrobras. O montante foi doado legalmente. “Não tenho esse tipo de prática [receber doações ilegais]. Não aceito e jamais aceitarei que insinuem sobre mim ou sobre minha campanha qualquer irregularidade. Primeiro, porque não houve. Segundo, porque, se insinuam, alguns têm interesses políticos”, disse Dilma. Neste sábado (27), em reunião com ministros após antes de embarcar para os EUA, Dilma já havia classificado como “seletiva” a divulgação da delação de Pessoa. “Na mesma época em que recebi os recursos, no segundo turno, o candidato que concorreu comigo recebeu também, com uma diferença muito pequena de valores, o Aécio Neves [PSDB]”, afirmou a presidente em Nova York. “Eu não respeito delator, até porque estive presa na ditadura militar e sei o que é. Tentaram me transformar numa delatora. A ditadura fazia isso com as pessoas presas, e garanto para vocês que resisti bravamente. Até, em alguns momentos, fui mal interpretada quando disse que, em tortura, a gente tem que resistir, porque se não você entrega seus presos.” Em 2008, quando ainda era ministra da Casa Civil no segundo governo Lula, Dilma afirmou, em depoimento no Senado, sentir orgulho de ter mentido sob tortura no período em que ficou presa pela ditadura porque “qualquer pessoa que ousar dizer a verdade para interrogador compromete a vida dos seus iguais”. Nesta segunda, a presidente defendeu que a Justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal investiguem a delação de Pessoa. E afirmou que tomará providências se o empresário a citar nos depoimentos. Dilma afirmou ainda que não recebeu o executivo em todo o seu primeiro mandato e disse que “não respeita nenhuma fala” dele.