Um dia olharemos para o século 20 e nos perguntaremos por que possuíamos tantas coisas, escreveu a revista Time em 2011, apresentando seu argumento de por que o consumo colaborativo seria uma das ideias que mudariam o mundo. Anos depois, o conceito ganhou corpo, inclusive no Brasil, onde hoje há diversos serviços na internet e comunidades em redes sociais nas quais troca é palavra bem mais curtida do que consumo.
O conceito, segundo artigo da pesquisadora Rachel Botsman – autora do livro O que é meu é seu – publicado no mês passado, refere-se ao compartilhamento direto entre pessoas de itens ou serviços subutilizados. Para ela, trata-se da reinvenção de práticas tradicionais através da tecnologia, como alugar, emprestar ou trocar, que passam a acontecer de maneiras e em uma escala inimagináveis antes da internet.
Para o professor de economia da USP, Ricardo Abramovay, a popularidade da troca de bens em grupos no Facebook, como o Escambo (com mais de 20 mil usuários) ou Free Your Stuff (liberte suas coisas), se dá pela possibilidade de cooperação social direta entre anônimos.
No caso do Free Your Stuff, trata-se de uma rede de grupos de origem alemã que conta com uma série de regras, sendo a mais importante a de que tudo ali deve ser objeto de doação. Suas comunidades são locais, restritas normalmente a uma cidade (como Berlim, Porto Alegre ou Recife). A versão de São Paulo, por exemplo, tem apenas nove meses de vida e conta com 12 mil usuários.
Fernanda Magniccaro, administradora do grupo, diz que a proximidade ajuda no contato pessoal e na entrega e retirada de objetos. O fluxo de entrada de novos membros é constante, diz. Trata-se de um novo olhar a respeito de antigos conceitos, usando a tecnologia para espalhar a informação e aproximar pessoas com os mesmos interesses. O assessor comercial, Ivon Ciuffa, de 37 anos, começou a trocar quando percebeu que tinha muita coisa parada em casa. Para ele, que já conseguiu cafeteira, perfume e mesa de escritório por meio dos grupos, as trocas acabam virando amizade. Esse relacionamento permite que você conheça uma pessoa diferente, mas que tem o mesmo gosto que o seu.