CLAUDIA ROLLI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Os 10,5 mil trabalhadores da Mercedes-Benz de São Bernardo do Campo avaliam em plebiscito iniciado nesta quinta-feira (2) se aceitam a proposta de redução de 20% da jornada de trabalho com diminuição de 10% de salário por um prazo de um ano, em troca de estabilidade no emprego.
O acordo foi negociado entre o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a montadora para garantir os empregos na fábrica até 30 de julho do próximo ano e enfrentar a crise no setor automotivo.
A proposta segue os mesmos moldes do PPE (Programa de Proteção ao Emprego), programa que vem sendo negociado entre as centrais sindicais e o governo federal desde o final do ano passado, e também deve permitir, por um prazo de 12 meses, a redução da jornada de trabalho em até 30% e dos salários em até 15%, caso a empresa comprove a necessidade de implementá-lo.
Os sindicalistas esperam uma resposta do governo. Segundo a reportagem apurou, o anúncio deve ocorrer ainda neste mês.
Se o governo federal anunciar a criação do PPE durante a vigência do acordo feito com a Mercedes, a montadora vai adotar o programa, segundo informa o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. A diferença, nesse caso, ainda de acordo com a entidade, é que ao final dos 12 meses do PPE é feita a recomposição integral dos vencimentos.
PLEBISCITO
Desde as 9h desta quinta-feira (2), o acordo é detalhado em assembleias feitas na entrada dos turnos e os trabalhadores votam, pela aprovação ou rejeição, em urnas instaladas em seus departamentos e áreas de trabalho.
O processo de consulta será encerrado às 21h desta quinta-feira (2), mas o resultado será divulgado nesta sexta (3).
Em relação ao reajuste salarial dos trabalhadores, a proposta do sindicato também prevê que os trabalhadores recebam metade da inflação (medida pelo INPC) como reajuste em maio de 2016 e o congelamento da evolução salarial no próximo ano.
Em contrapartida ao acordo, a Mercedes-Benz deve garantir a estabilidade de todos os trabalhadores no prazo de um ano -de 1º de agosto deste ano a 30 de julho de 2016- e abrir um novo PDV (Programa de Demissão Voluntária), para os trabalhadores com estabilidade, como os portadores de doenças profissionais, e para os aposentados.
ADESÃO x DEMISSÃO
Há cerca de 25 dias, um grupo de 300 trabalhadores demitidos pela montadora se reveza em um acampamento em frente à unidade da Mercedes em São Bernardo.
Eles foram dispensados, após voltarem de um período de lay-off, em que 500 trabalhadores tiveram o contrato de trabalho suspenso desde o ano passado.
Outros 200 trabalhadores aderiram ao PDV aberto anteriormente pela companhia.
Segundo o sindicato, a proposta negociada prevê agora que a quantidade de adesões ao novo PDV determinará o número de trabalhadores que serão recontratados pela empresa. Ou seja, se houver 100 adesões ao programa, elas serão descontadas das 300 demissões já feitas -nesse caso, o mesmo número de demitidos poderia retornar à fábrica.
Moisés Selerges, diretor sindicato e trabalhador da Mercedes, diz que a negociação foi difícil.
“Consideramos que essa é a proposta de acordo possível para este cenário de crise. O mercado de caminhões registra queda de quase 50% e, na nossa avaliação, só deve melhorar a partir do segundo semestre de 2016. Nosso desafio é atravessar esse período sem demissões, uma vez que a empresa já anunciou um excedente de dois mil”, explica o dirigente.
Procurada, a empresa ainda não se pronunciou sobre a proposta em votação.