FELIPE DE OLIVEIRA RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Referência no tratamento do câncer no país, o Inca, do Rio de Janeiro, suspendeu a realização de exames feitos para pacientes que não são atendidos pelo próprio Instituto Nacional do Câncer. Segundo comunicado do hospital – ao qual a reportagem teve acesso -, a medida foi tomada devido ao corte de 30% das verbas do Ministério da Saúde destinadas à instituição. No total, o Inca deixou de realizar os exames para pacientes de 13 hospitais – 12 do Rio de Janeiro e um da Bahia. “Mediante o corte de 30% no orçamento e a falta de reagentes (…), a Divisão de Laboratórios (…) necessitou reavaliar a demanda dos pedidos de exame. Fica decidido que por tempo indeterminado serão suspensos todos os exames de imunofenotipagem, citogenética e de biologia molecular realizados para outras instituições”, diz trecho do documento, datado de 1º de julho. Segundo o comunicado do Inca – assinado pela chefia da Divisão de Laboratório do Inca -, a medida foi aplicada para que a unidade não feche as portas devido à falta de materiais e ao alto custo dos serviços prestados. Especialistas ouvidos pela reportagem dizem que a medida atinge cerca de 80% da hematologia pública do Rio de Janeiro. Só um dos hospitais, o Federal da Lagoa, tem mais de mil pacientes que dependem de exames realizados pelo Inca. Ainda segundo o comunicado, somente serão realizados exames que fazem parte de projetos que têm financiamento próprio e que compram os materiais necessários. Para um funcionário do setor que preferiu não se identificar, a medida pode trazer um colapso no tratamento de diversos pacientes e gerar até mesmo risco de vida. Os 13 hospitais atingidos pela medida do Inca são: HPM (Hospital Central da Polícia Militar), Hemorio, HU-UFRJ (Hospital Universitário Clementino Fraga Filho), Hospital Pedro Ernesto (da UERJ), Insituto FioCruz, Hospital Antônio Pedro (da UFF), Hospital Federal da Lagoa, Hospital Federal de Bonsucesso, Hospital Federal dos Servidores do Estado, Hospital Federal de Ipanema, Hospital Naval Marcílio Dias, Hospital da Força Aérea do Galeão – todos do Rio – e Hospital de Oncologia da Bahia. OUTRO LADO Procurada pela reportagem, a direção do Inca confirmou a suspensão, mas negou que ela tenha ocorrido devido a corte de verbas. Informada que a reportagem teve acesso ao comunicado, a direção do hospital disse que o documento errou ao dizer que a suspensão se devia ao corte de 30% de verbas do Ministério da Saúde. Segundo o Inca, a interrupção se deu em função dos prazos para conclusão dos processos licitatórios para compra de materiais e não por falta de recurso. O instituto também informou que os exames foram suspensos por uma semana apenas para pacientes de outras unidades de saúde. Ainda de acordo com a direção, “o Inca está funcionando em sua capacidade plena”. Apenas no primeiro trimestre de 2015, realizou mais de 1.700 cirurgias, 10,2 mil atendimentos em quimioterapia, mais de 15 mil em radioterapia e 59 mil consultas médicas. A reportagem procurou o Ministério da Saúde, mas não houve resposta até o início da noite desta quinta-feira (2).