JULIANA GRAGNANI, ENVIADA ESPECIAL
PARATY, RJ (FOLHAPRESS) – Em mesa com a escritora israelense-americana Ayelet Waldman, autora de um polêmico livro chamado “Bad Mother” (mãe ruim), a designer e escritora Ana Luisa Escorel, filha de Antonio Candido e Gilda de Melo e Souza, acabou fazendo uma homenagem à mãe e à relação entre os pais.
As duas autoras participaram de debate na noite desta sexta (3) em Paraty, onde ocorre a 13ª edição da Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty.
No final da discussão, as autoras foram questionadas sobre a maternidade. O livro de Waldman, publicado em 2009, foi motivado por um ensaio no qual dizia que amava mais o marido – o escritor Michael Chabon, vencedor do Pulitzer por “As Incríveis Aventuras de Kavalier & Clay” – do que os quatro filhos do casal.
“No final, as pessoas me deram razão. O livro foi bem recebido”, contou ela. “As pessoas se tocaram de que a superproteção materna mimava muito os filhos.”
Ana Luisa Escorel, disse que faria uma afirmação ao mesmo tempo “cabotina e arrojada”: “provavelmente existem intelectuais brasileiros muito maiores que meu pai. Mas nenhum intelectual teve ao lado dele uma mulher como minha mãe”.
As três filhas, contou Escorel (a mais velha), sabiam que, por mais que os pais gostassem delas, e fossem devotados e responsáveis, “era nítido que o afeto maior” envolvia a relação dos dois. “Nem eu nem minhas irmãs jamais nos sentimos excluídas, apesar de saber do afeto e interesse humano e intelectual que um tinha pelo outro. Isso nos dava um grande orgulho”, afirmou.
“Na minha casa não tinha sol e não tinha lua. Tinha um pai e tinha uma mãe. Minhas irmãs e eu, apesar de sermos filhas de pessoas raras, não fomos tragadas pela admiração enorme que eles despertaram a vida toda”, afirmou. “Acho importante situar essa mulher [Gilda de Melo e Souza] ao lado desse homem tão incensado – às vezes acho que até há um exagero.”
As duas escritoras também falaram sobre a influência das relações familiares na produção de ambas. Waldman disse que ela e o marido, Chabon, se revezam para editar seus trabalhos. “A pessoa cujo o trabalho está sendo editado sempre grita com a outra”, disse. “Estamos tentando pular a gritaria e ir direto para a auto flagelação”, brincou, arrancando risos da plateia.
Quando chegou a vez de Ana Luisa Escorel, ela ficou alguns segundos em silêncio. “Seu marido está aqui, né?”, perguntou Waldman. Ana Luisa, casada com o diretor Eduardo Escorel, fez que sim. “Sou casada com um homem absolutamente crítico. Não conheço nenhum outro ser humano que tenha capacidade crítica tão afiada quanto a lamina do meu marido”, afirmou. Ela disse que ele a ajuda, mas que, frequentemente, não concordam, “e prevalece, é claro, minha opinião”.
A autora contou também que deu seu primeiro romance, “O pai, a mãe e a filha” (Ouro Sobre Azul) para que seu pai o lesse. “A opinião dele vale alguma coisa”, brincou ela, ao dizer que ele havia respondido, no dia seguinte, que a obra atrapalhara seu sono porque ele não conseguia parar de ler.
Já o segundo livro, diz ela, não interessou nem ao pai, nem ao marido. “Ótimo, porque ganhei um prêmio”, disse, provocando risadas. No ano passado, se tornou a primeira mulher a vencer o Prêmio São Paulo de Literatura com “Anel de Vidro” (Ouro Sobre Azul).