MARIANA HAUBERT
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Após a ameaça de deixar a articulação do governo, o vice-presidente Michel Temer adotou nesta segunda-feira (6) um tom conciliatório ao afirmar que não há crise entre Executivo e Legislativo e garantir que segue na função.
Apesar das derrotas recentes que o Planalto sofreu no Congresso, Temer garantiu que há amplo apoio da base aliada ao governo Dilma Rousseff.
“Em princípio, o vice-presidente sempre ajuda na articulação política”, disse Temer, para afirmar em seguida que, ao assumir o cargo de articulador, passou a fazer tal papel mais acentuadamente, com ampla colaboração de aliados e ministros.
“Essa especulação [de sua saída] eu acho um pouco fora de prumo, porque o que se espera do vice é que sempre ajude na articulação política. Esteja eu designado pela presidente ou não, ajudarei sempre na articulação política do país, não tenha a menor dúvida disso”, afirmou, após reunião da coordenação política do governo onde foi discutida a desoneração da folha.
Temer concedeu entrevista acompanhado dos ministros Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia) e Gilberto Kassab (Cidades) e pelo líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS).
Ele aproveitou ainda para minimizar a relação conflituosa entre o Executivo e o Legislativo, concluindo que “não houve dificuldades na relação” dos dois Poderes. “Várias vozes se manifestaram para revelar que todos os projetos mandados pelo Executivo foram aprovados”, afirmou.
Sobre a aprovação da redução da maioridade penal na Câmara, Temer disse que esta não pode ser considerada uma derrota do governo, porque é um tema que divide a sociedade. “Se alardeou que o governo perdeu, mas com toda a franqueza, este é um tema da sociedade que é examinado pelos vários setores que têm representação no Congresso”, disse.
Kassab aproveitou a ocasião para fazer um desagravo ao vice-presidente. “Queria publicamente manifestar aqui nosso reconhecimento à competente atuação do vice-presidente Michel Temer à frente da coordenação política do governo. Uma ação muito firme, conciliadora como sempre, que nos permitiu atravessar nesse momento do país sem maiores percalços”, disse.
Ele foi seguido por Aldo e Delcídio. “Eu sou testemunha, como líder do governo, do trabalho que o vice Michel Temer cumpriu na aprovação de todas essas medidas fiscais. Toda essa articulação foi exitosa”, disse o petista.
“O vice-presidente exerce a coordenação a convite da presidente e com o apoio de todos os partidos da base. Não só o apoio, como o reconhecimento e a gratidão do esforço com que tem procurado corresponder às expectativas de coordenar uma base ampla e heterogênea que tem de corresponder às expectativas”, completou Rebelo.
CRISE POLÍTICA
O peemedebista foi escolhido para falar publicamente sobre a conjuntura política, com o intuito de minimizar a pressão feita por partidos da base contra o Planalto -PMDB, principalmente- e pelo crescente questionamento sobre se Dilma conseguirá terminar o seu mandato.
“A presidente está inteiramente tranquila em relação a isso. [O impeachment] É algo impensável para o momento atual. Eu vejo essa pregação com muita preocupação porque não podemos ter, a esta altura, em que o país tem uma grande repercussão internacional, uma tese dessa natureza sendo patrocinada por vários setores. Temos que ter tranquilidade institucional.”
Para ele, não há crise política no país porque o governo tem apoio no Congresso.
“A crise é usada muito genericamente, quando você pode ter uma crise política, uma crise econômica, o que não se quer é uma crise institucional. E levar adiante essa ideia de impedimento é indesejável para o país”, afirmou.
O peemedebista também rebateu a fala do senador e presidente do PSDB, Aécio Neves (MG), que afirmou neste fim de semana que o partido se prepara para, em breve, deixar de ser oposição e passar a ser governo, em alusão à queda da presidente.
“Esse em ‘breve’ nós todos esperamos que ele esteja falando de daqui a três anos e meio, quando haverá novas eleições”, disse. “Eu não chamaria isso de irresponsável, mas temos que mostrar que isso não é bom para o país”, afirmou se referindo à defesa do impeachment feito pela oposição.
Temer voltou a prometer que deverá liberar as emendas aos deputados da base aliada, que ameaçam votar contra o governo caso elas demorem para sair. “Vamos liberar as verbas exatamente para dar cumprimento à lei orçamentária”.