JOÃO PEDRO PITOMBO
SALVADOR, BA (FOLHAPRESS) – O jornalista Marivaldo Filho, editor de política do site “Bocão News”, afirma ter sido agredido por policiais militares no último sábado (4) em Salvador após filmar com o telefone celular uma ação da polícia.
Em nota, a Polícia Militar informa que ainda não há registro formal do caso, mas adianta que as circunstâncias da abordagem policial serão investigadas. O governador da Bahia, Rui Costa (PT), determinou uma “apuração rigorosa” do caso.
As agressões, segundo o jornalista, aconteceram no Bonfim, bairro popular da capital baiana, após Marivaldo ter deixado uma festa com um amigo.
Ele afirma que seu amigo foi repreendido e agredido após colocar um copo de cerveja em cima do carro de um policial que estava sem farda. Outros policiais, que passavam numa viatura, foram apartar a situação e também teriam começado a agredir o rapaz.
Marivaldo sacou o celular para registrar a ação da polícia, mas, afirma, foi repreendido por um dos policiais, que o mandou apagar a foto.
“Respondi que não apagaria porque não tinha feito nada de errado. Ele perguntou se eu era advogado do rapaz agredido. Respondi que era jornalista. Foi a senha para o terror começar”, disse o jornalista, em depoimento postado numa rede social na internet.
Segundo Marivaldo, os policiais deram voz de prisão alegando desacato e passaram a agredi-lo com socos no rosto.
“O policial devolveu meu celular para que desbloqueasse e ele pudesse apagar a bendita foto. Por ter tomado muitos socos, não conseguia acertar a minha senha, completamente baqueado com os murros”, disse.
Por não ter acertado colocar a senha no celular, um dos policiais pegou um objeto na rua e bateu na cabeça dele. O ferimento lhe rendeu uma fissura no crânio e oito pontos na cabeça. Após as agressões, as fotos foram apagadas do celular. O jornalista foi algemado, colocado na viatura e levado para uma delegacia.
Antes, por causa do sangramento na cabeça, precisou ser encaminhado para uma unidade de pronto atendimento.
Para o jornalista, o fato de ser negro e estar num bairro popular foram determinantes para a ação agressiva dos policiais.
“Isso acontece todos os dias nos bairros periféricos. Todo dia, alguém apanha de graça ou é humilhado por policiais. Isso tem que mudar”, disse Marivaldo à reportagem.
O jornalista fez exames de corpo de delito e vai formalizar uma queixa na corregedoria da PM nesta segunda-feira (6).
REPERCUSSÃO
Em mensagem postada nas redes sociais, o governador Rui Costa determinou uma “apuração rigorosa” da denúncia de agressão.
“Não permitiremos em nosso Estado intimidações, constrangimento e nenhum tipo de violência contra o profissional ou contra o cidadão que denuncie ato ilícito”, afirmou em nota oficial.
A presidente do Sindicato dos Jornalistas da Bahia, Marjorie Moura, condenou a ação dos policiais, alegando que estes agiram com “a ferocidade própria de jagunços ao espancar violentamente o colega e agredi-lo com uma pedrada”.
Segundo o sindicato, casos de intimidação ou ameaças a jornalistas por registrar a ação de policiais “se tornaram uma prática corriqueira” na Bahia.