LUIZA FRANCO RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – “Foi tudo tão rápido que nem tive tempo de temer pela minha vida.” A frase é do arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal dom Orani João Tempesta, assaltado na noite deste domingo (5) pela segunda vez em menos de um ano. O religioso reiterou, porém, na tarde desta segunda (6), que ele “não está distante da realidade de seu povo”. O novo roubo foi registrado em Quintino, na zona norte do Rio. O arcebispo estava num carro, junto com um casal de italianos amigos, e foi interceptado por quatro criminosos armados no viaduto de Quintino por volta das 22h30. Eles seguiam para a Arquidiocese do Rio após um evento com fiéis da Paróquia Nossa Senhora da Paz, na Serrinha, em Campo Grande, zona oeste da cidade. Os criminosos, que estavam em outro carro, abordaram o veículo modelo Kia Sorento que transportava o arcebispo. Nesta segunda, o cardeal disse que a ação durou menos de um minuto. Os assaltantes pareciam ser menores de idade e aparentavam estar drogados e nervosos. Os ladrões apontaram pistolas para os passageiros e ordenaram que entregassem seus pertences, ainda segundo o arcebispo. Em seguida, fugiram com o carro e levaram o motorista Aloísio Araújo como refém. Cerca de 200 metros adiante, Araújo foi liberado, mas os bandidos levaram o Kia e os pertences pessoais de todos os ocupantes. Segundo dom Orani, o grupo havia saído da rota esperada, a avenida Brasil, para dar carona a dois seminaristas, que foram deixados em casa antes do assalto. Do arcebispo foram levados o celular, o relógio, paramentos e uma cruz de prata que Orani ganhou de presente do papa João Paulo 2º. Este, segundo o religioso, é o bem cuja perda ele mais lastima. Durante o assalto, os ladrões foram informados pelo motorista que a vítima era um religioso, mas ignoraram o fato e continuaram com o assalto. O cardeal não chegou falar com os criminosos. Como a ação foi rápida, o arcebispo contou que não está traumatizado, apesar de ter sofrido dois assaltos em menos de um ano. Neste momento, ele lembrou que muitos cariocas já viveram essa experiência. “PRECISA TRATAR BEM AS CRIANÇAS” Também afirmou que não fará qualquer alteração em sua rotina ou no seu esquema de segurança. “São efeitos de uma cidade que precisa tratar bem de suas crianças, dar educação”, disse o cardeal. A declaração foi dada porque o arcebispo acredita que os assaltantes eram menores de idade. Mesmo assim, disse, se declarou contrário à redução da maioridade penal. “Se forem para uma prisão normal, vão fazer pós-graduação [no crime]. Tem que recuperar com educação, de outra forma, de outra maneira, que os leve a sentir que tem valores que podem vir à tona, não só o mal, mas muita coisa boa que tem no coração também.” O motorista do cardeal foi ouvido e encaminhado para confecção de um retrato falado, mas não conseguiu descrever os assaltantes. O cardeal e o casal que estava com ele no carro serão chamados para prestar depoimento. A Polícia Militar fez buscas na região, mas nenhum dos suspeitos foi preso. O caso foi registrado na 24ª DP (Delegacia de Polícia) e as investigações vão ficar a cargo da 28ª DP. Segundo a assessoria de imprensa da Arquidiocese, o carro foi encontrado no final da tarde de segunda no entorno do Morro da Pedreira, zona norte do Rio. O número de carros roubados na região do Quintino aumentou de 119, no ano passado, para 135, em 2015. A região está sob a responsabilidade do 3º Batalhão da Polícia Militar. É composta por 22 bairros e tem cinco delegacias. “EU TE PERDOO” Em setembro do ano passado, o arcebispo foi roubado no trajeto entre o Centro de Estudos do Sumaré, no Alto da Boa Vista, e a sede da arquidiocese na Glória (zona sul do Rio). Na ocasião, um dos bandidos que participaram do assalto reconheceu o arcebispo e pediu perdão ao religioso, mas ainda assim prosseguiu com o assalto, levando um anel, um crucifixo e o celular dele. Na ocasião, o fotógrafo Gustavo de Oliveira, que estava no mesmo carro do arcebispo no momento do roubo, relatou à reportagem que o jovem questionou se Tempesta era da igreja e depois pediu perdão, dizendo que “não queria fazer isso”. O religioso então disse “eu te perdoo, meu filho”. Ao ser absolvido pelo religioso, o assaltante fugiu. Também foi levado pelos assaltantes a mochila de um seminarista e o equipamento fotográfico de Oliveira. Durante a fuga, os bandidos resolveram abandonar os pertences de dom Orani, assim como os telefones roubados.