GRACILIANO ROCHA, BELA MEGALE E FLÁVIO FERREIRA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dono da empresa de câmeras de segurança Comtex, o empresário Alexandre Amaral de Moura disse que fez depósitos de US$ 640 mil nas contas de Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró na Suíça sem saber que estava sendo usado para pagar propina para os ex-diretores da Petrobras. Em depoimento no último dia 30, Moura contou aos investigadores na Operação Lava Jato que depositou US$ 340 mil na conta Quinus, de Costa, e US$ 300 mil na conta Forbal, de Cerveró, a pedido de Bernardo Schiller Freiburghaus, apontado como o operador que distribuiu propina paga pela Odebrecht a diretores da Petrobras no exterior. Segundo ele, foram operações do chamado “dólar-cabo”, uma modalidade clandestina e ilegal de remessa de dinheiro. Moura afirmou que procurou Freiburghaus entre 2008 e 2009 porque precisava trazer rapidamente ao Brasil dinheiro de uma conta não declarada na Suíça. Pela versão apresentada no depoimento, o empresário autorizou Freiburghaus a realizar as duas transferências para as contas Quinus e Forbal, que ele afirmou ter pensado que pertenciam ao operador. Dias depois dos depósitos, Moura recebeu o dinheiro equivalente, em reais e em espécie, no Rio. Para o Ministério Público Federal, o sistema de compensação clandestina usado por Freiburghaus nos dois depósitos visava quebrar o rastro dos recursos. “Caso alguém seguisse os recursos de Alexandre, no exterior, acabaria na conta de Paulo Roberto Costa, quando na verdade a transferência para este correspondeu a pagamento em espécie no Brasil. Caso alguém seguisse os recursos pagos em espécie no Brasil pela Odebrecht, acabaria chegando a Alexandre, quando na verdade eles eram meio para pagar Paulo Roberto Costa no exterior”, escreveram os procuradores em documento que integra o inquérito que apura irregularidades na Odebrecht. Em junho, quando surgiram as evidências de ligação entre o empresário e os depósitos nas contas de Costa e Cerveró, o dono da Comtex disse à Folha de S.Paulo que jamais tinha feito pagamentos a executivos da estatal e tampouco teve conta na Suíça. Na versão contada aos procuradores, Moura admitiu ser dono de uma conta no banco Credit Suisse em 2005, não declarada à Receita Federal.

BANCOS SUÍÇOS O depoimento de Moura joga mais luz às atividades de Bernardo Freiburghaus. Em geral descrito como “o doleiro da Odebrecht”, evidências colhidas pela Polícia Federal apontam-no como um operador mais sofisticado do que alguém do dia a dia do mercado informal de câmbio. Ele aparece como uma espécie de homem-forte dos bancos suíços para captar dinheiro de milionários no Rio. Ele agia por meio da Diagonal, sua empresa de investimentos com registro na Comissão de Valores Mobiliários. Relatório da Polícia Federal, revelado pela Folha no mês passado, aponta que Freiburghaus operaria como uma espécie de braço clandestino de quatro grandes bancos de investimentos no Rio: PBK Private Bank, Pictec e os braços suíços do HSBC e do Royal Bank of Canada. Depois que o banco Credit Suisse fechou sua agência no Rio, Alexandre Moura disse ter procurado Freiburghaus para abrir uma nova conta na Suíça. Segundo o dono da Comtex, Freiburghaus se apresentou como representante do banco Julius Baer e abriu-lhe uma nova conta nesta instituição em 2008. O operador tinha uma procuração do empresário para movimentar a conta secreta. O método é similar ao descrito por Paulo Roberto Costa. Em sua delação, o ex-diretor da Petrobras diz que se encontrava regularmente com Freiburghaus, também seu procurador, para conferir extratos bancários que eram destruídos em seguida. Freiburghaus deixou o Brasil no ano passado, após a eclosão da Lava Jato. Ele é considerado foragido pelas autoridades brasileiras. OUTRO LADO Por meio de nota, a Odebrecht negou “veementemente” ter feito qualquer pagamento ou depósito para Nestor Cerveró ou para qualquer outro ex-dirigente da Petrobras, mesmo por meio de intermediários. A construtora classificou o caso envolvendo Alexandre Maciel “de ilação feita na petição assinada por membros do Ministério Público Federal do Paraná”. “A CNO [Odebrecht] lamenta, como tem denunciado seguidamente, a prática de tornar públicas para a imprensa informações descontextualizadas, que são convenientemente excluídas dos autos, impedindo a atuação da defesa em igualdade de condições em relação à acusação”, afirma trecho da nota. “Este estratagema, baseado em vazamentos seletivos para a imprensa, procura propagar rapidamente, sem direito ao contraditório, teses sem base em provas, apenas baseadas em ilações, como a da generalização de supostas condutas individuais”, concluiu a empresa. A advogada de Freiburghaus, Fernanda Silva Telles, foi procurada, mas não retornou aos pedidos de entrevista.