Quando a escassez dos meios de pagamento e a crise de abastecimento de alimentos básicos da população resultaram em colapso na vida da Alemanha, surgiu uma extraordinária quantidade de cédulas de emergência. Era o Notgeld – o Não dinheiro – que chegou junto com o início da I Grande Guerra Mundial. O Notgeld circulou entre 1914 e 1923 nas empresas, municipalidades, instituições diversas, que passaram a imprimir sua própria moeda .

O dinheiro de necessidade passou a ser alternativa para amenizar ou remediar a falta de moeda, notas de banco, cédulas estatais. Coisa do passado, que volta a ser pensada agora, quando economias em crise lançam mão do ouro, prata e bens preciosos. Junto com liberdade e democracia.

Fotos: Dayse Regina Ferreira
Chico Buarque disse para “mirar nas mulheres de Atenas” – olhe a Grécia como exemplo

O dinheiro de emergência da Alemanha era impresso em papel, cartolina, seda, linho e couro. Seda e linho foram vales emitidos em Bielefeld, Vestfália, e as notas de couro impressas em Pössneck, leste da Alemanha.

O Notgeld circulava por empresas industriais, negociantes e institutos de crédito, além de comunidades, como a da cidade de Altenburg. A validade era normalmente de âmbito regional. Assim, um Notgeld de Königsberg, Prússia Oriental, dificilmente teria validade na Baviera, já que não havia valores semelhantes entre as cidades.

Ponha toda a beleza grega no seu horizonte

O Notgeld da Alemanha, durante e após a I Guerra Mundial, era classificado em Kleingeld (dinheiro miúdo), Grossgeld (dinheiro de maior valor) e Inflationsgeld (dinheiro inflacionário). O Kleingeld circulou a partir de 1914; o Grosgeld, entre 1918 e 1921, com apoio do Banco do Reich. Surgiu em tempos de agitação, greves, rebeliões e tentativas de golpe de Estado, quando o Banco do Reich já não dava conta de colocar em circulação dinheiro vivo em quantidade suficiente para as necessidades do povo.

Vale da fábrica de cigarros Holz, de Frankfurt, lançado em julho de 1921, com validade até dezembro do mesmo ano

O Inflationsgeld, dinheiro inflacionário, surgiu em 1922, quando o mesmo banco não conseguia mais atender a demanda, em razão da crescente e incontrolável inflação. Mais tarde, o Grossgeld passou a ser procurado pelos colecionadores, por causa de sua qualidade de impressão e composição esmerada. Coblentz, Weinheim e Villingen exibiram obras arquitetônicas e paisagens através da impressão de antigas gravuras. Dresden colocou uma vista panorâmica da cidade num vale de vinte marcos, Würsburg mostrou a cidade histórica e Bayreuth divulgou seu teatro wagneriano.

Barão de Münchhausen (1720-1797), o mentiroso folclórico, no vale de 50 pfenning da cidade

cidade de Rinteln

A cidade renana de Velbert, famosa pela fabricação de fechaduras e acessórios de metal, tratou de difundir seus produtos no não dinheiro e as empresas como a fábrica de máquinas de costura Pfaff e a Agfa, lançaram composições gráficas cada vez mais cobiçadas pelos colecionadores no início da década de 20. O interesse de artistas, arquitetos, professores pelo novo meio de expressão, transformou o não dinheiro em documentos históricos e culturais, mostrando momentos da política e do ambiente de época.

Notas de Altenburg, coloridas, mostrando o rapto do príncipe e as figuras de bronze que encimam o chafariz da cidade

Com as elevadas reparações de guerra que a Alemanha teve de pagar após a I Guerra Mundial, o Reichsmark, dinheiro do país, despencou das alturas. Os preços alcançaram números vertiginosos: um pedaço de pão podia custar quinhentos bilhões de marcos!

Krieggeld, dinheiro de emergência de guerra, válido até dezembro de 1918

Operários entregavam imediatamente o dinheiro do salário às suas mulheres, que esperavam nos portões das fábricas ainda no transcurso do dia, para que elas pudessem efetuar compras antes do final do expediente, quando o valor da moeda já não seria mais o mesmo.

Em 1923 o Reichsmark atingiu o novo valor de um trilhão em relação ao padrão original e o resgate definitivo do Notgeld aconteceu pelos decretos de 26 de outubro e 12 de dezembro de 1923, com a quitação efetivada dentro de um ano.

Cornelia Schlosser e marido, irmã do poeta e filosofo alemão Goethe, no vale de 50 pfennig

Euro, Dracma (a moeda mais antiga do planeta), Real: será que não está em tempo de reavivar a memória de certos governos,– agora que alguns estão misturando Venezuela com Grécia, cortando salários, diminuindo pensões e aceitando inflação–, com fatos históricos de tempos que ninguém mais quer vivenciar: você diz Oxi?

Nota de 5.000.000.000 — 5 bilhões de marcos — emitida pelo Banco Nacional do Reich em Berlim, em outubro de 1923. Preço de um pão, na época

GRÉCIA COMO DESTINO TURÍSTICO
Poucos países na Europa, ou no mundo, podem oferecer tanta beleza, tradição, história, arte, gastronomia, folclore como a Grécia. No pequeno território, com uma população que é quase a metade da população de São Paulo, está a essência do continente europeu, toda a cultura que passou para a Europa através do verdadeiro funil que foi a Sicília, caminho de tudo o que somos e de tudo o que sabemos. Vale colocar a Grécia, seus monumentos, suas ilhas, no próximo roteiro de viagens. Vá antes que acabe.

Valendo apenas 50 pfennig a nota com Carlos Magno (742-814), imperador do Sagrado Império Romano, impressa pela cidade de Wedel (Schleswig-Holstein)