Qué queu sou – qué que sou? – Sois Rei, sois Rei, respondiam os súditos do personagem de Jô Soares, o Reizinho, um anão gordo e boboca, pelo qual o humorista fazia críticas na época em que as críticas eram proibidas nas terras tupiniquins.

Sempre disseram que a prostituição era a mais antiga profissão no planeta. Mas Jean Paul Roux, um especialista em historia comparada das religiões, afirma o contrário.

Conforme seus estudos, a mais antiga e tradicional profissão, consagrada pelos séculos, é a realeza. Ela aparece nos quatro cantos do mundo, desde os astecas até os persas, dos faraós egípcios aos franceses dos tempos de Louis XIV.

A figura do rei se impõe, por definição, no centro de todos os povos que têm regime de majestade soberana. E nem é preciso ser rei tradicional: Helmut Kohl, que nunca foi rei mas teve majestade nunca negada pelos seus pares, dizia Lá onde eu estou sentado, é o centro. Hoje, presidentas e primeiras ministras, na rigidez do poder, também acham que onde sentarem, será o centro do mundo.

O soberano ocupa o centro de uma série de círculos concêntricos, cuja forma está nas jóias expostas em museus nacionais e a mais famosa, conhecida desde a Idade Média, tem o nome de taça de Salomão.

Aquele Salomão mui amigo da rainha de Saba, que Roux coloca em pé de igualdade com Louis VI o Gordo, Hulagu, imperador mongol do Irã nos anos 1263, e Hakon Itakornason, rei norueguês da mesma época. O terreno estudado é bastante extenso, indo de dois mil anos antes de Cristo até os reis da Espanha atual. Ou seja, 400 soberanos espalhados em quatro mil anos, uma média de 10 anos para cada um. Os imperadores também entram na listagem. Menos os ditadores, banidos pela ilegitimidade da identidade monárquica.

Afinal, o que é um rei, que mereça tal denominação? Primeiro, e antes de mais nada, que seja um personagem divino, ligando céu e terra, descendente se possível de alguma divindade animal. Uma serpente, um veado, algo mágico. O rei se enxerga como padre xamã ou mágico. Ele é o bispo da outra esfera. Sua Majestade cria e acompanha batalhas, armas na mão. Faz o papel de soldado, de um aristocrata dedicado aos segredos das guerras. O rei assim, se coloca disponível ao povo.


Rainha Beatrix da Holanda, abdicou em favor do filho

O rei, enfim, dispõe na verdade de uma missão divina, pela qual os deuses – ou Deus –querem que ele se preocupe com o bem estar dos cidadãos comuns. Mas o rei seria totalmente eclesiástico, soldado, povão? Um pouco de tudo, claro, mas sua essência é guiada pelo divino. De um ponto a outro do planeta, através da História, sempre vamos encontrar os mesmos símbolos da realeza, as regalia: trono, cetro, coroa, liteira, espada, capa, calçados e trajes adequados a tanta pompa.

É assim que os Orléans tentam retornar, assim que os Bourbons se mantém na Espanha. É assim que um ou outro proletário se acredita marcado pelas divindades, nem que sejam as do Candomblé. É assim que todos os que tomam assento em uma cadeira de espaldar mais alto, nos ambientes dos organismos republicanos, acreditam que seus lugares são mesmo o centro do mundo. E haja regalias, regalia e …teatrinho. E haja palavrão, agora definitivamente liberado no jargão palaciano.

Reis e rainhas se eternizam no poder. A rainha Elizabeth II está há 63 anos dominando o Reino Unido e colonizando outros povos. Um dos mais velhos do mundo é o rei Bhumibol Adulayadej, que junto com a sua rainha Sirikit, manda na Tailândia. No Oriente Médio é a rainha Rania, mulher do rei da Jordânia Abdullah II, a mais bela, culta e famosa. Margarida II, da Dinamarca, assumiu em 1972.


Já tivemos casa real portuguesa no Brasil, quando Napoleão tomou conta da Europa

O rei Juan Carlos I, da Espanha, ficou no trono por 39 anos e abdicou para dar espaço ao filho. Que vai continuando a linhagem real, educando a filha mais velha para assumir o poder nos próximos anos. Se a Espanha não mudar de idéia. No mundo de hoje ainda sobrevivem 28 famílias reais, algumas mandando ver de verdade, outras apenas figurativas, presenças decorativas, com poderes limitados. Embora sempre com pompa e circunstância, como o povo gosta.

Arábia Saudita, Bélgica, Catar, Dinamarca, Emirados Árabes, Holanda, Japão, Monaco, Noruega, Reino Unido, Suécia mantém suas cabeças coroadas. Mas é a Inglaterra que supera a todas, sempre nas primeiras páginas, por escândalos, mortes pouco explicadas, adultérios, mas também por ações simpáticas, muito bem divulgadas nos quatro cantos do mundo. Em outros países, ainda tem gente perguntando qué queu soue funcionários afirmando sois rei (ou rainha), sois rei (ou rainha).