As influências das migrações são muito curiosas na História da música, desde a diáspora negra africana até as colagens contemporâneas com sons eletrônicos. Raquel Coutinho é uma dessas compositoras, cantoras e instrumentistas que trazem em seu trabalho experiências criativas do desenvolvimento em trânsito. Depois de mergulhar na profundeza de suas fontes mineiras em Olho d’Água (disco de estreia em 2009), ela fez percurso semelhante ao de seu conterrâneo estadual João Bosco, igualmente embebido da africanidade mineira, e foi morar no Rio de Janeiro. Ali ela gerou o segundo trabalho, Mineral, em que mescla novidades sonoras da cidade que (a) adotou com o que levou na bagagem.

O som dos tambores que ecoam em Mineral têm esse efeito auditivo como flagrante de suas mutações: É a cidade ecoando em mim, e eu, a reflexão do som. Mineral significa a evolução, é todo o caminho percorrido até aqui, é o processo, é a lapidação, são as camadas e a continuidade, diz Raquel. Essa transmutação desemboca nas letras reflexivas de canções como Tão Perto e O Que Não Se Vê. Tenho muito isso, um tom reflexivo e abstrato: é uma forma de compor mesmo. Sou muito instigada pelas sensações e vivências. As composições têm uma forte influência da cidade, do urbano, dessa ebulição cosmopolita, diz ela.

Me Leva e Estranho Jardim foram as primeiras canções divididas com Maurício Negão, que se tornou seu grande parceiro nesse trabalho, não só nas composições, mas na produção, em que Raquel também se uniu ao carioca Marcos Suzano, percussionista como ela. A banda que vai acompanhá-la em shows é formada por Suzano, Sacha Amback e André Valle.