O procurador Deltan Dallagnol, um dos responsáveis pela Operação Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF), afirmou que o País vive hoje uma guerra contra a corrupção que requer a união entre diversas instituições. Dallagnol defendeu os métodos da investigação e negou que haja pressão por delações premiadas. Para o procurador, as colaborações indicam que há perspectiva concreta de punição, e apontou a demora nos julgamentos como um dos fatores que favorece a impunidade.
Cremos que, no caso da Lava Jato, em razão de sua importância e da sua dimensão, o Judiciário vai dar uma resposta rápida. O problema é como funciona o sistema. Como dar celeridade a um julgamento em que há quatro instâncias envolvidas com um número maior de processos que sua capacidade de julgar?, questionou o procurador, que participa de palestra no Rio ontem. Estamos em uma guerra contra a corrupção em que se uniram diversas instituições. A imprensa é nossa aliada, quando expõe o problema que está sendo desvelado pela nossa investigação. A sociedade brasileira não aguenta mais impunidade. Mas somos brasileiros e não vamos desistir do nosso País, concluiu.
Colarinho – Dallagnol disse que a corrupção mata milhões e afirmou que o crime de colarinho branco hoje pode demorar até 15 anos para ser julgado. O procurador classificou as punições previstas para a corrupção como uma piada de mau gosto e apresentou um conjunto de dez medidas que poderiam ser implantadas para combater a impunidade, como o trâmite paralelo dos processos em diferentes instâncias.
Existe um círculo vicioso entre corrupção e impunidade. A demora é uma mazela e deficiência do sistema judicial que precisa ser enfrentada, para que resultados práticos sejam alcançados, disse. Com a impunidade, o único freio que temos é o freio ético. Mas não podemos depender da ética. Temos que ter freios jurídicos para barrar a corrupção, completou.
As medidas apresentadas constam de um manifesto que está colhendo assinaturas pelo País para sua aprovação no Congresso. Questionado sobre a possibilidade de não haver a aprovação, o procurador afirmou que há representantes eleitos e devemos confiar neles.
Pode existir problema em nível de determinadas pessoas, mas continuamos acreditando nas instituições, reforçou. Dallagnol disse acreditar em um alinhamento de circunstâncias excepcionais para garantir a prioridade ao caso, citando o trabalho em conjunto com o juiz Sérgio Moro e o ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zavascki.
O procurador ainda defendeu os métodos de colaboração premiada, criticados pelos advogados dos réus. Segundo Dallagnol, as colaborações são vistas como um fator de sucesso da operação. Pessoas vão olhar a seriedade das consequências e vão passar a buscar a solução negociada. Se a pessoa está sendo investigada por A, ela entrega A, B, C e D, afirmou.
O suspeito vai avaliar qual a perspectiva que tem com uma solução negociada ou sem. Sem o acordo de colaboração tem uma perspectiva de impunidade, avaliou o procurador. Jamais prendemos alguém para alcançar acordos de colaboração. Mais de dois terços das delações foram feitas com os suspeitos soltos, disse.