MARIA LUÍSA BARSANELLI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Sobre as árvores do largo do Arouche, no centro de São Paulo, cantam pássaros e também mulheres.
Na peça “O Canto das Mulheres do Asfalto”, quatro atrizes e dois atores sobem nas árvores do largo e, em coro, vociferam o texto de Carlos Canhameiro (da Cia. Les Commediens Tropicales).
Eles interpretam mulheres que decidem não mais ter filhos e, assim, parar com a humanidade. É uma maneira, explica a diretora, Georgette Fadel, de “dar um susto no espectador”, para que ele possa entender a nossa realidade e os problemas da sociedade em que vivemos.
Estar sobre as copas significa fugir da cidade e buscar um contato com a natureza. “A gente pensou que o asfalto é algo realmente impermeável”, conta Georgette, “e que essas mulheres estariam em busca de um solo menos perigoso, menos instável que o asfalto, que não permite um fluxo [com a natureza].”
Mas o elenco não se restringe à copa das árvores. Circula pelo largo, brinca no balanço preso em galhos, atravessa a rua.
“A gente achou que precisaria ter um pouco de ‘perigo’ com os automóveis”, diz Georgette. “Os carros passam rápido, quase atropelam os atores, e a cena fica muito mais concreta.”
O Arouche, continua a encenadora, “é um grande centro, muita coisa acontece e muitos tipos circulam, desde o morador de rua à classe média comendo no restaurante. É uma mistura muito rica.”
A rua é também um desafio. “A gente aprende muito, tem que lidar com o barulho dos carros, e as pessoas interagem com o espetáculo.”
No dia da estreia, na última sexta (24), choveu muito e a sessão teve que ser adiada em uma hora. Passada a tormenta, o elenco entrou em cena bastante encharcado.
“A peça começa com a frase: ‘Quando a chuva cai, o asfalto não deixa passar’. De alguma maneira, acho que a gente chamou a chuva”, brinca a diretora. “E ela lavou a nossa alma.”

O CANTO DAS MULHERES DO ASFALTO
QUANDO sex., às 19h e às 21h, sáb., às 18h e às 20h; até 29/8
ONDE largo do Arouche, São Paulo
QUANTO grátis
CLASSIFICAÇÃO livre