ANDERSON FIGO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A decisão da agência de classificação de risco Standard & Poor’s de colocar a nota de crédito do Brasil em perspectiva negativa sustentou a quinta alta seguida do dólar sobre o real nesta terça-feira (28), mas não conseguiu evitar o primeiro ganho do principal índice da Bolsa brasileira em oito sessões.
A moeda americana encostou nos R$ 3,44 após a notícia, no início da tarde, mas logo perdeu força e fechou com avanço mais comedido. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, registrou valorização de 1,56%, para R$ 3,415 na venda -maior valor desde 21 de março de 2003, quando estava em R$ 3,416. Na máxima do dia, a cotação chegou a R$ 3,433.
Já o dólar comercial, usado no comércio exterior, encerrou a sessão com ganho de 0,17%, para R$ 3,370. É o maior valor desde 28 de março de 2003, quando estava em R$ 3,372. Na máxima do dia, a cotação chegou a R$ 3,435.
No mercado de ações, o Ibovespa chegou a subir até 2,33% por volta das 13h, reduziu o ganho para cerca de 0,15% após a notícia sobre a decisão da S&P, mas retomou o fôlego nas últimas horas de pregão e fechou em alta de 1,78%, aos 49.601 pontos.
Segundo operadores, o Ibovespa teve uma correção nesta terça-feira após sete quedas consecutivas, em que acumulou perda de 8,17%. No exterior, os mercados acionários de Nova York também fecharam no azul, enquanto as Bolsas da Europa avançaram em torno de 1%.
A avaliação é que a recente apreciação da moeda americana em conjunto com a baixa pontuação do Ibovespa deixou o principal índice da Bolsa nacional “barato” para os estrangeiros, o que pode ter motivado novas compras de papéis nesta sessão.
Na escala da S&P, o Brasil está no limite do grau de investimento (selo de bom pagador), com a nota “BBB-“, mas a perspectiva deixou de ser neutra. Com a medida, a agência sinalizou que o país poderá passar ao grau especulativo em breve, o que faz com que investidores exijam juros maiores para compensar o risco.
“O mercado já considerava que isso fosse ocorrer, assim como um rebaixamento da nota do Brasil pelas agências Moody’s e Fitch para o último nível de grau de investimento da escala de notas dessas agências”, disse Felipe Miranda, analista e sócio-fundador da Empiricus Research.
“Isso já está no valor dos ativos. (…) Se tomarmos por base o preço do CDS [Credit Default Swap], o seguro contra calote dos títulos brasileiros, na prática o Brasil já é considerado ‘junk’ [especulativo] pelos mercados”, afirmou o analista. Nesta terça, o CDS do Brasil foi a 293,32 pontos. No mês passado, estava em torno de 260 pontos.
Essa percepção ficou clara, segundo Miranda, após a redução na meta de superavit primário do governo, anunciada na semana passada. “Os ratings são mais consequência do que causa. O temor de perder o grau de investimento é que, caso isso se concretize, grandes fundos internacionais terão de zerar suas posições no Brasil e, com isso, retirar recursos investidos aqui. Assim, a Bolsa continuará caindo e o dólar, subindo.”
Apenas nas últimas cinco sessões, o dólar à vista acumulou valorização de 7,6%. No mês, a alta chega a 9,9%. Para o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, a escalada reflete “fenômenos passageiros” e foi intensificada pelo cenário de instabilidade política no país.
“Estamos num momento de reforço das nossas políticas fiscais”, disse Levy nesta terça-feira (28), durante a comemoração dos 40 anos da Escola de Administração Fazendária, em Brasília. “O processo de ajuste da economia está avançando dentro do padrão normal. Empresas têm se adaptado, se preparado para crescer.”
A revisão da perspectiva da nota do Brasil pela S&P veio antes do esperado, segundo Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs. “Mas não é totalmente uma surpresa, diante da clara deterioração do cenário fiscal e de crescimento [do país]”, disse.
“Esperamos que tanto a Moody’s quanto a Fitch cortem em breve a nota de risco do Brasil em um nível [o que ainda manteria o país com selo de bom pagador], provavelmente com perspectiva negativa. Além disso, é cada vez mais provável que o Brasil perca o grau de investimento por uma ou mais das principais agências globais em algum momento entre 2016 e 2017”, completou Ramos.