SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A ONU manteve os contratos com uma companhia aérea depois de ter descoberta que funcionários da empresa estupraram mulheres na República Democrática do Congo, informou nesta quinta (30) o jornal “The Guardian”.

Os crimes sexuais, que teriam ocorrido em 2010, são mais um caso de abuso ocorrido durante missões de paz da ONU. As denúncias, porém, restringiam-se a soldados, sendo este o primeiro caso conhecido de abuso por civis.

Segundo a publicação, o estupro foi cometido por funcionários da UTair, companhia aérea russa responsável pelo transporte das tropas e dos funcionários da entidade em países em conflito na África e no Oriente Médio. Os estupradores teriam atacado a adolescente em uma base de helicópteros da UTair na cidade de Kalemie, em agosto de 2010. A denúncia foi feita pela própria vítima a uma ONG local, que a referiu ao comando das tropas.

Em depoimentos aos investigadores da ONU, a adolescente disse ter sido violentada dentro da sala do gerente da empresa russa. Ela estava inconsciente por ter sido dopada com uma bebida oferecida pelos funcionários. A vítima declara que todo o ato ocorreu quando ela estava inconsciente. Ao acordar, percebeu que estava em um banheiro pelada, molhada e com dores em seus órgãos genitais. Ela deixou o local com a ajuda de um guarda.

Outras testemunhas confirmaram que a relação sexual foi feita por um gerente e um engenheiro de solo. Um faxineiro disse que seus superiores queriam que ele “encontrasse uma garota para nos divertirmos”. O segurança da base da UTair contou que o engenheiro de solo entrou na sala do gerente embriagado. Ele bateu no rosto da menina, chutou suas nádegas e colocou um cigarro aceso no ânus da adolescente. A ação foi registrada pelo próprio agressor em fotos em seu celular. Os dois autores foram interrogados, mas negaram qualquer envolvimento no caso. A partir dos depoimentos, os investigadores conseguiram descobrir outros casos e que esta era uma prática recorrente dos funcionários da UTair.

CULTURA DE ABUSO

No relatório, os investigadores concluíram que os funcionários da UTair haviam criado uma cultura de exploração sexual na base de Kalomie, O relatório final sobre o caso, de março de 2011, chegou ao escritório do secretário-geral, Ban Ki-moon. Segundo membros do alto escalão da ONU, o caso chegou a colocar em dúvida a renovação do contrato com a UTair. A empresa, porém, foi mantida porque se comprometeu a manter um sistema de observação da ONU em suas unidades.

Em nota, a ONU disse que a colocação de monitores nas instalações da empresa aérea foi uma forma de “reabilitar” o contrato com a UTair e que a companhia russa foi a primeira a adotar este tipo de contrato. Desde que o caso foi descoberto, a empresa recebeu da ONU US$ 543 milhões em contratos de transportes para as missões de paz em 11 países da África e do Oriente Médio, incluindo a República Democrática do Congo.

As primeiras denúncias de abuso sexual envolvendo as missões da ONU foram reveladas à imprensa mundial no início deste ano. Desde então, a organização avalia casos ocorridos em quatro países da África -República Centro-Africana, Sudão do Sul e República Democrática do Congo- e no Haiti, onde as tropas são comandadas pelo Brasil.