SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar voltou a subir nesta sexta-feira (31) e encerrou o dia cotado a R$ 3,42. A moeda americana foi pressionada por preocupações com a situação fiscal do país, após o governo anunciar que o deficit primário das contas públicas atingiu R$ 45,7 bilhões nos últimos 12 meses terminados em junho. O dólar à vista, referência no mercado financeiro, subiu 1,54%, para R$ 3,420, no maior nível desde 20 de março de 2003, quando a moeda fechou a R$ 3,480. Na semana, o dólar subiu 2,36%, enquanto no mês a alta foi de 10,08%. Em 2015, a valorização chega a 29,2%.

O dólar comercial, usado em transações no comércio exterior, fechou com alta de 1,63%, para R$ 3,425, também no maior patamar desde 20 de março de 2003, quando a moeda encerrou cotada a R$ 3,479. Na semana, avançou 2,30%, e no mês, 10,1%. No ano, o dólar comercial sobe 28,7%.

Já a Bolsa brasileira fechou com alta de 1,94%, para 50.864 pontos. No mês, o Ibovespa, principal índice do mercado acionário local, caiu 4,17%, enquanto no ano a Bolsa sobe 1,71%. O deficit primário registrado nas contas públicas ameaça o selo de bom pagador concedido ao país pelas agências de classificação de risco, afirma Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora. “A situação está ruim, com a possibilidade de rebaixamento da nota de crédito. Não há uma notícia boa que possa amenizar a situação do país no curto prazo”, avalia.

Nesta semana, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s manteve a nota de crédito do país, mas alterou a perspectiva para negativa, o que significa que o país pode perder o selo de bom pagador. “O rebaixamento da nota já está no preço do dólar”, afirma Tarcisio Joaquim, diretor de câmbio do Banco Paulista. “Até porque o Brasil tem grau de investimento, mas o investidor não vem para o país”.

EXTERIOR

A valorização da moeda americana no Brasil se deu na contramão do comportamento do dólar no exterior. Das 24 principais moedas emergentes, 19 se apreciaram em relação à divisa americana. O real sofreu a segunda maior desvalorização, perdendo apenas para o rublo russo, que caiu 3,47%. Dados ruins nos Estados Unidos causaram a desvalorização da divisa americana no exterior.

A confiança do consumidor nos EUA caiu em julho, de acordo com a pesquisa da Universidade de Michigan divulgada nesta sexta-feira. A leitura final de julho do índice geral de confiança do consumidor foi a 93,1, contra 96,1 em junho e preliminar de 93,3. O Federal Reserve (Fed, banco central americano) cogita elevar os juros no país ainda neste ano. Dados ruins da economia podem levar o Fed a adiar o aumento para 2016. A taxa básica nos EUA está em seu menor patamar histórico, entre zero e 0,25% ao ano, desde 2008 -uma medida para conter os efeitos da crise. O aumento dos juros nos EUA deixaria os títulos do Tesouro americano -cuja remuneração acompanha essa taxa e que são considerados de baixíssimo risco- mais atraentes do que aplicações em emergentes, como o Brasil, provocando uma saída de recursos dessas economias.

Com a menor oferta de dólares, a cotação do dólar seria pressionada para cima. A volatilidade do dólar no Brasil também foi motivada pela formação da Ptax (taxa média de câmbio calculada diariamente pelo Banco Central, cujo valor no último dia útil de cada mês serve como referência para contratos no mercado financeiro). Todo contrato futuro de dólar vence no primeiro dia útil do mês e usa a Ptax do mês anterior para fazer a correção da diferença em relação à taxa do contrato. Como parte dos investidores aposta em um taxa maior do dólar e parte em uma cotação menor, é comum haver essa oscilação da moeda no último dia útil do mês.

O BC rolou pouco menos de 60% dos swaps que vencem na segunda-feira que vem, a menor proporção em mais de um ano. O mercado questiona se a autoridade monetária continuará com a estratégia de reduzir as rolagens diante da escalada recente da moeda dos EUA, que tende a pressionar a inflação. “O dólar alto tira um dos maiores pilares da concorrência na economia, que é o importado. Será que BC acha que a taxa de juros alta e o câmbio desvalorizado podem conter a inflação?”, questiona Tarcisio Joaquim, do Banco Paulista.

BOLSA

As ações de bancos se recuperaram nesta sessão, após caírem no dia anterior pressionadas principalmente pelo relatório do Banco Central que indicou que o estoque de crédito nas instituições financeiras privadas nacionais encolheu 0,2% no segundo trimestre de 2015. Os papéis do Itaú Unibanco subiram 2,80%, para R$ 30,08, enquanto as ações preferenciais do Bradesco tiveram avanço de 0,85%, para R$ 27,28. Os papéis do Banco do Brasil subiram 2,32%, para R$ 22,05. Alguns resultados também estiveram no radar dos investidores nesta sexta (31).

A Lojas Renner viu seu lucro líquido subir mais de 30% no segundo trimestre em relação ao mesmo período de 2014, apoiada em uma boa aceitação por clientes da coleção de inverno e pela expansão de dois dígitos na receita. Apesar de o resultado ter superado as expectativas, as ações da empresa fecharam em queda de 1,51%, para R$ 108,89. Já as ações da BRF subiram 4,02%, para R$ 71,87. A maior exportadora de carne de frango do mundo teve lucro líquido de operações continuadas de R$ 364 milhões no segundo trimestre, salto de quase 47% em relação ao resultado obtido um ano antes.

As ações da Vale, que abriram em queda, conseguiram fechar em alta, mesmo com a notícia de que o minério de ferro no mercado à vista da China recuou novamente nesta sexta-feira. A commodity encerrou julho com perdas acumuladas de 10%, em meio a uma fraca demanda das siderúrgicas dos país e uma grande oferta da matéria-prima do aço. Os papéis preferenciais da mineradora tiveram alta de 1,67%, para R$ 14,65. As ações ordinárias avançaram 2,41%, para R$ 17,87.