DIEGO IWATA LIMA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A expectativa era alta na 89ª Festa de Nossa Senhora c no bairro do Bexiga, na Capital, neste sábado (1º).
Somando-se o volume das duas barracas, a organização imaginava vender mais de 12 mil unidades da recheada Fogaça (R$ 8), carro-chefe culinário do evento beneficente, apenas na primeira das oito noites da festa.
O exagero numérico é tão tradicional na Achiropita quanto as populares canções italianas que ecoam em alto-falantes que trabalham sem parar ao longo do trajeto com trânsito bloqueado entre as ruas 13 de Maio, São Vicente e Doutor Luiz Barreto.
Entre uma audição de o “Sole Mio” e uma garfada no bem servido prato de espaguete à bolonhesa, outra especialidade local, o frequentador pode ainda participar de uma rifa.
Por R$ 2, concorre-se ao prêmio principal, um Fiat Palio 0 km. O segundo prêmio, porém, resume com excelência o espírito da festa.
“Você pode levar para casa um queijão provolone de 100 kg e 12 garrafas de vinho”, anuncia animado o locutor do evento. Cerca de 250 mil visitantes são esperados pela organização até o fim do mês.
Mas nem só de anunciar prêmios da rifa viveu o locutor neste sábado. Uma preocupação constante era alertar o público sobre a espécie de festa paralela que acontece nas mesmas ruas em que a oficial está acontecendo.
“A gente não pode se responsabilizar pela qualidade da comida que o pessoal que não é da festa vende. Por isso avisamos para que procurem o nosso banner nas barracas”, diz Maria Emilia Moitinho, 67, relações-públicas da festa e frequentadora da Nossa Senhora Achiropita desde que nasceu.
BANHEIRO A R$ 2
Os comerciantes locais aproveitam-se das noites da Achiropita para também aumentar sua renda. E não são os únicos.
Nivaldo Vieira dos Santos, 59, por exemplo, é morador do Bexiga há 20 anos. Mas, durante as noites de festa, torna-se também locatário de banheiro, por R$ 2. Várias residências nas ruas bloqueadas para o trânsito, e também nas adjacentes, exibiam placas com ofertas semelhantes.
“Vamos ver se vai valer a pena, porque com essa crise da água, tá fogo, né? Se eu conseguir uns R$ 60 por noite, tá bom”, disse ele à Folha. “Também vou colocar umas cervejas aqui daqui a pouco”, acrescentou.
A cabeleireira Cintia Alves, 34, ia emprestar o salão que leva seu nome para a irmã Alexandra Alves, 38, vender maçãs do amor e morangos envoltos em chocolate.
“Eu tenho o ponto e já pago aluguel. Vou deixar umas horas a mais de luz acesa para dar uma força para ela”, disse Cíntia.