Sim, as férias escolares já acabaram. Mas ainda são muitos os que podem viajar agora e aproveitar tarifas mais convenientes, menos gente nas estradas, menos filas nos aviões.

Salvador, Morro de São Paulo, Barra Grande, Itacaré, Trancoso na Bahia. Itatiaia no Rio de Janeiro, sul de Minas Gerais, Pedra do Baú em São Paulo. Ilha Grande no Rio de Janeiro, Ilha do Mel no Paraná, Visconde de Mauá no Rio, Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, tudo fica disponível para quem gosta de trilhas e muita natureza.

E o Paraná sozinho já é uma viagem à Europa: saindo de Curitiba para a região da Cooperativa Batavo, é certeza de conhecer um pouco da Holanda. Depois é só visitar Vila Velha, as grandes formações areníticas da região de Ponta Grossa. É lugar de grande beleza e tem até cachoeira dentro da gruta azul chamada de Buraco do Padre.

Quem gosta de natureza não pode deixar de conhecer Prudentópolis, que além das famosas cascatas da cidade e de Guarapuava, um pedaço da Ucrânia, com todas as tradições eslavas. Basta sair dali e seguir até a colônias Entre Rios, uma nova Suábia, onde um pequeno museu documenta a vida dos primeiros colonos e a culinária oferece filé com mostarda, batatas no molho de natas e doces típicos. Dá para fazer uma volta ao mundo, sem viajar muito longe de casa.

Fotos: Dayse Regina Ferreira

Maça é a grande atração no Vale do Rio do Peixe, em Fraiburgo

VIAGENS DE AVENTURA
Mas mesmo os atletas precisam tomar cuidados nas caminhadas no meio do mato, porque além da coragem, se aventurar por uma trilha exige cuidados e atenção. A primeira providência é contratar um guia local, que conheça bem o caminho e suas surpresas. Mapa e bússola são indispensáveis.

Roupas adequadas – leves, para o calor; agasalhos para o frio – são básicas. E nada de usar um tênis novo em caminhadas longas. Sapatos confortáveis, apropriados para caminhar, ajudam. A cada cansaço – ou a cada duas horas – parar para beber água, se alimentar com barras de cereais ou frutas secas, descansar.

Quem passa a noite no mato deve evitar fogueiras, se for tempo de seca e calor. A chance de provocar um incêndio de grandes proporções está sempre presente. Se for fazer longas viagens de ônibus ( há quem se arrisque a viajar a Santiago do Chile, partindo de São Paulo, um percursso de 56 horas dentro do ônibus), leve um bom livro e um pouco de música para se distrair.

Cuidado com o lixo, na mata ou na praia. Tenha sacos plásticos para recolher embalagens usadas e o mais que você descartar. Restos de comida devem ser enterrados.

Consulte tudo o que for possível antes de iniciar a viagem: fale com quem já fez o roteiro, pesquise na internet, leia guias especializados. Não esqueça de consultar a previsão do tempo. Com chuvas fora de época e enchentes absurdas no Sul, Norte, Nordeste, com secas onde menos se espera, é bom ter uma idéia do que será necessário levar de roupas na mochila.


Praia de Coqueiros, uma das muitas belezas catarinenses

Nas caminhadas, tenha sempre barras de cereais, frutas secas, água e sopa em saquinhos (desidratada)

Na mochila roupa embalada em saco impermeável; mapas; livro; água; bússola; lanterna; repelente; protetor solar; kit de primeiros socorros; sacos plásticos para trazer o lixo de volta; calção de banho ou maiô; dois shorts/bermuda; agasalho de moleton; capa de chuva; camisetas; roupa interior; calça comprida de moleton; sandália e meias; tênis confortável; chapéu ou boné.

Como sobreviver em situações limite: Leve um bastão na caminhada. Se entrar em areia movediça e começar a afundar, deite-se de costas sobre o bastão. Quando atingir o equilíbrio, manobre o bastão debaixo dos quadris e procure lentamente se aproximar da terra firme.

Para se livrar de um jacaré em terra: cavalgar o bicho e cobrir seus olhos. Se ele estiver mordendo, dar tapas no focinho obriga o jacaré a abrir a boca.

Se estiver no mar e aparecer um tubarão, como costuma acontecer nas praias do Recife, procure bater em seus olhos e guelras com o que estiver à mão. São os lugares mais sensíveis do animal, já que o focinho responde pouco.


Os habitantes de Pomerode gostam de dizer que a cidade é a mais germânica do Brasil

ROTEIROS PARA TODOS
Na escolha do roteiro, o que não faltam são sugestões nesse Brasil Continente. A Pedra do Baú, perto de Campos do Jordão, tem muitas cachoeiras no caminho; o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, é uma reserva ecológica cheia de quedas d’água e cachoeiras.

Visconde de Mauá, no Rio de Janeiro, tem as vilas Maringá, Visconde de Mauá e Maromba, além de trilhas com cachoeiras, na Bahia, o Morro de São Paulo, Barra Grande e Trancoso têm praias lindas, com hospedagem acessível e noite agitada, principalmente em Trancoso.

Ilha Grande, no Rio de Janeiro, tem 25 opções de passeios pelas praias, lagoas, cachoeira, trilhas para caminhadas e a Ilha do Mel, no litoral paranaense, tem praias, um farol e um forte, além de bares e pequenos restaurantes


Prudentópolis é também a Terra das Cachoeiras Gigantes

NO FRIO DO INVERNO
Santa Catarina, quando não está debaixo de alguma enchente, é boa alternativa para quem gosta de frio. São Joaquim é a cidade mais fria, famosa pelas ocasionais nevascas. Lages combina o frio com o turismo rural. As macieiras de Fraiburgo e as construções em enxaimel de Treze Tílias lembram a Europa. O que também acontece com quem viaja para Blumenau ou Joinville.

No Paraná o frio maior é em Palmas e fica perto da fronteira com Santa Catarina. No Rio Grande do Sul são as grandes geadas, os chalés de Gramado e Canela, os jardins bem cuidados que formam cenário perfeito para quem quer se imaginar nos Alpes.

Campos do Jordão em São Paulo e Monte Verde, em Minas, não têm neve mas têm vida alpina, marcada na arquitetura e nos costumes locais. Os restaurantes com lareira acesa, servem foundues e bons vinhos ou as cervejas especiais de inverno, mais encorpadas e fortes.

Durante o Império, a família real brasileira se retirava da Corte, no Rio de Janeiro, seguindo no verão para Petrópolis, procurando um pouco mais de frio e temperaturas mais amenas. Hoje o carioca procura a cidade serrana justamente pelo inverno, pelas marcas do Império, pelo hábitos europeus. Teresópolis é outro destino obrigatório do inverno carioca.


Artesanato de cada etnia, a melhor compra: pêssankas em Prudentópolis, esculturas de madeira em Treze Tílias, conservas e embutidos nas antigas colônias européias

 

SERRA DA MANTIQUEIRA
Monte Verde tem termômetros marcando de três até dez graus negativos durante as noites mais frias. Pela manhã os campos acordam cobertos de gelo, mas o sol forte costuma derreter tudo em minutos. Monte Verde é mineira, com resquícios suíços e refúgio de paulistas. É um distrito de Camanducaia, distante apenas 166 quilômetros de São Paulo. Belo Horizonte fica mais longe: 484 quilômetros.

Coberta de pinheiros europeus e araucárias, está a 1.600 metros de altitude, mostrando paisagem de muito verde, cortada de riachos. Quem se aventura, percorre as trilhas que levam às pedras Redonda, Rachada, Chapéu do Bispo e Selada, que oferecem vista para o Vale do Paraíba.

A Cachoeira dos Pretos tem mais de 150 metros, e as oções de passeios ficam mais animadas com o aluguel de motos ou cavalo. Na hora das compras, na avenida principal, malhas de lã, chocolates artesanais, xampus e sabonetes feitos na região, maçãs e aguardentes. Para os mais sossegados, sauna, golfe, boliche, tênis e minikart são atrativos.


Prudentópolis é considerada o “Vaticano paranaense”, conservando tradições ucranianas

TREZE TÍLIAS
No Vale do Rio do Peixe, em Santa Catarina, o clima é de Áustria. O clima é pacato, a população tem um forte espírito comunitário e todos trabalham para o bem comum. Treze Tílias é um lugar à parte no Brasil, sem violências, desde que foi fundada em 1933.

As tradições são preservadas nas festas, com chopp, dança e música típica austríaca, habitantes vestindo trajes coloridos nos domingos e feriados. Na arquitetura, sacadas em madeira entalhada, janelas e venezianas em madeira, enxaimel, fachadas brancas. Em pequenas torres aparece o galo, símbolo da disposição para o trabalho e um sino. Brasões do Tirol estão por toda parte, assim como os gerânios nas janelas.

Andreas Thales era ministro da Agricultura na Áustria. E um ferrenho antinazista. Seguindo conselhos do então Consul do Império Alemão, Walter Schusschinnig, Thales visitou regiões na América do Sul – Chile, Peru, Paraguai, Uruguai – até se decidir pelo Brasil e a região catarinense, por causa da paisagem, do clima, dos vales, florestas de pinheiros e ciprestres, que lembravam o Tirol. Thales e mais 82 imigrantes austríacos criaram a cidade mais austríaca do Brasil.

O nome Treze Tílias é tradução de Dreizehmlinden, poema do alemão Wilhelm Weber, de 1872. A versão alemã foi usada até 1938, quando Getúlio Vargas resolveu apagar tudo o que lembrasse o nazismo e mudou o nome da cidade para Colônia Agrícola Papuã. Em 1955 a cidade recebeu o direito de traduzir o nome alemão.

Nos arredores da cidade há algumas excursões interessantes. A gruta de Babenberg, no povoado de mesmo nome, distante oito quilômetros do centro, marca o lugar onde os primeiros imigrantes se instalaram.

Outras opções são a cascata Rohrer, a três quilômetros do centro, e o lago Schaupenlehner, distante seis quilômetros. No centro, a atração é o Museu do Imigrante, com exposição de armas, vestuário e fotos.

A escultura em madeira, típica do Tirol, é uma das grandes atrações de Treze Tílias. Muitos locais viajam até a Áustria para fazer aperfeiçoamento no ofício. Ficaram famosos os artistas da cidade, como Gotfredo Thaler, Bruno Thaler, Bernardo Moser, Werner Thaler, George Gratt e Mariane Thaler Comunello. As peças vão de miniaturas a grandes esculturas.

Godofredo Thaler, neto do fundador da cidade, é o escultor mais famoso. Sua casa, na entrada de Treze Tílias, tem uma escultura de madeira na frente com cerca de quatro metros de altura. Especialista em artesanato sacro, tem mais de duas centenas de obras espalhadas pelas igrejas brasileiras. A mais importante, é claro, está na Catedral Dom Bosco, de Brasília, um Cristo Crucificado famoso internacionalmente.


Trilhas, caminhadas na floresta, visita às cascatas: o guia local é indispensável

FRAIBURGO
Em Fraiburgo, Santa Catarina, as maçãs não são o fruto proibido. Muito pelo contrário, o turismo é feito nas plantações de macieras, na colheita e na indústria da fruta. Toda a vida da cidade do Vale do Rio do Peixe roda em torno da maçã. Quem vai até Fraiburgo tem que gostar do tema.

Praças, ruas arborizadas, construções em estilo alpino, áreas verdes marcam a cidade. Serrarias, móveis e frutas formam a economia local. Há igrejas por todos os lados. A hotelaria se destaca com o hotel Renar, do grupo produtor de maçãs. O hotel confortável tem quadras esportivas, salão de jogos, restaurante, bar, sauna, piscinas fechadas, térmicas.

O grupo Renar foi criado pela família Frey, imigrantes da Alsácia, que iniciaram a povoação local. O nome Fraiburgo deriva de o burgo dos Frey. O primeiro hotel foi inaugurado em 1988.

O turismo fez com que fosse reservado um pomar para receber os turistas que chegam de ônibus e querem passear entre as macieiras. Também podem conhecer os frigoríficos e receber informações sobre o cultivo das frutas.

Além do artesanato em madeira ( todas as placas da cidade são entalhadas), a opção de compras gira em torno do mel de maçã, sabonete de maçã, geleias, maçã seca para chá e doces.

A floresta de espécies nativas é passeio do grupo Renar, que ocupa área de 76 hectares de araucárias de até 600 anos e tem trilhas para os visitantes caminharem, uma pequena capela no meio da mata construída em madeira e um mini zoológico, com bambis e cervos.

POMERODE
Quem vai até Blumenau, deve esticar até Pomerode, distante apenas 27 quilômetros. A cidade exemplifica bem as características da tradição e cultura germânica no Brasil. Os primeiros imigrantes chegaram em 1861, povoando as margens do rio do Testo. Hoje o município tem parque industrial desenvolvido, produzindo porcelanas, cerâmicas, móveis, queijos, frios, máquinas, calçados.

O clima é temperado, com média anual de 21 graus. É o lugar que concentra o mais número de casas em estilo enxaimel do Brasil, tudo lembrando as cidades interioranas da Alemanha.

Muitas tradições do passado foram preservadas, como a festa do rei e rainha do tiro, os muitos clubes de caça e tiro promovendo eventos semanais. Tudo é motivo para danças típicas, comidas fortes e muito chopp. A comida deve ser provada nos restaurantes típicos da cidade, como o Pommernhaus, que só abre para almoço. Ficaram famosos também o Stettiner e o Pomerode.

PALMAS
Distante 374 quilômetros de Curitiba, Palmas tem a temperatura mais baixa do Paraná. Quando começa o inverno, a primeira geada é para a cidade, uma das mais altas do Estado, situada a 1.035 metros de altitude.

O grande evento da cidade acontece em março, com a Feira da Maçã e da Batata, bom pretexto para provar tortas quentes e pratos típicos dos colonizadores. Toda a região ao redor é de grande beleza natural e quem precisa se hospedar pode escolher Guarapuava ou União da Vitória, rodando pela fronteira com Santa Catarina.

Palmas fica às margens da BR 280, região de pinheirais e macieiras, e o frio começa logo no final da tarde, lá pelas 17 horas, e só vai melhorar um pouco ao meio dia seguinte.