MÁRCIO FALCÃO BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – No último debate em busca do aval dos procuradores para permanecer por mais dois anos no comando do Ministério Público, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, afirmou nesta segunda-feira (3) que sua candidatura não representa uma ambição pessoal. Como novas bandeiras, prometeu intensificar os instrumentos e mecanismos para o combate à corrupção, criando uma nova procuradoria nacional anticorrupção e outra de recuperação de ativos. Janot foi alvo de provocações na abertura do evento puxadas pelo subprocurador-geral Carlos Frederico, que questionou o papel de liderança do colega na instituição, e de indiretas do subprocurador-geral Mario Bonsaglia, que prometeu transparência -inclusive com a divulgação da agenda se ocupar a chefia do MP. A subprocuradora-geral Raquel Dodge centrou sua apresentação em propostas, defendendo melhorar a qualidade dos resultados da instituição, com adoção de mecanismo para controle interno. Na quarta-feira, os mais de 1.200 procuradores elegem três dos quatro candidatos para compor a lista tríplice que a categoria envia para a presidente Dilma Rousseff definir o indicado, que terá que ser sabatinado e aprovado pelo Senado. A expectativa é que Dilma escolha Janot, cujo mandato atual acaba no dia 17. Diante das investigações de políticos no esquema de corrupção da Petrobras, líderes do Congresso prometem dificultar uma eventual recondução de Janot. Internamente, porém, o desgaste do procurador por conta da Lava Jato é apontado como a principal bandeira para conquistar o voto dos colegas. Em sua fala no debate, o atual procurador-geral afirmou que sua recondução não é projeto pessoal. “A coragem está na capacidade de compreender que cada um externa o que pode oferecer. Estou determinado a oferecer serenidade, acolhimento, trabalho e diálogo, todos verdadeiros, sem vender ilusões e nem alardear bravatas”, disse Janot. “Carrego a certeza de que é pelas coisas sadias, pela pátria proba, pela sociedade ordeira, pelo Ministério Público, sim, essa gente do MP, que isso tudo vale a pena. A minha paz e a minha felicidade são fortaleza que residem numa falta de ambição pessoal”, completou. O procurador-geral também lançou novas plataformas para tentar ganhar votos e focou no combate à corrupção, com a criação de uma nova procuradoria nacional anticorrupção, e outra de de recuperação de ativo. “Vamos intensificar o combate à corrupção estruturando cada vez mais o MP para o pleno exercício de seu poder investigatório. Investiremos ainda mais tecnologia, capacitando e aperfeiçoando o sistema que já temos. Criaremos uma nova procuradoria nacional anticorrupção”, disse. O procurador pediu união da categoria e disse mais uma vez não vender ilusões nem alardear bravatas em seu trabalho. ‘ATUAÇÃO MIDIÁTICA’ Rival com tom mais crítico, Carlos Frederico voltou a acusar indiretamente Janot de ter uma atuação midiática, o que prejudicaria a interlocução do MP com outros Poderes, e questionou seu papel de liderança. “Você conhece o procurador-geral da República? O que é lido é do PGR ou de terceiros? Tem que ver o que é liderança. Líder não pode falar uma coisa e fazer outra porque ele é exemplo. Exemplo tem que respeitar regras internas para cobrar fora de Casa. Seu dever é levar as pessoas a fazer o mesmo que ele faz. É muito importante que ele saiba dar exemplo, pautar os colegas, as atividades do MP”, disparou. O subprocurador-geral Mario Bonsaglia também prometeu reforçar as investigações da Operação Lava Jato e alfinetou Janot ao prometer transparência em sua eventual ação no MP. Janot protagonizou polêmicas ao manter encontros sem publicidade, por exemplo, com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). “Pretendo enfatizar a busca de eficiência do Ministério Público na investigação criminal. Apresentar resultado concreto. Devemos também ser uma instituição mais transparente. Minha agenda na PGR será divulgada para todos os cidadãos”, disse. A subprocuradora-geral Raquel Dodge centrou sua fala na defesa de instrumentos para conferir maior controle de qualidade na atuação dos procuradores, com regras de compliance (controle interno), a partir de critérios internacionais. “O foco de atuação deve ser sempre o resultado e o impacto transformador”, disse Raquel Dodge.