O aumento da inflação que tem corroído o poder de compra do brasileiro já começa a ter reflexos na rede de ensino particular. A inadimplência no mês (aquela em os pagamentos são realizados dentro do mês, mas em atraso) está em torno de 20%. Esse é um patamar bastante alto, afirma o presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Paraná (Sinepe-PR), Jacir Venturi. No entanto, a média de inadimplência geral (atrasos superiores a 30 dias) nas escolas particulares de ensino fundamental é de 8% e, para o segundo semestre, a tendência não é nada promissora.

Venturi explica que a inadimplência do mês é alta por conta do custo (2% de multa mais 1% ao mês) ser menor que de outra contas. Como exemplo, cita o custo nos atrasos para o pagamento em atraso das contas do cartão de crédito e do cheque especial. Além disso, a legislação proíbe que a instituição faça qualquer tipo de sanção ao aluno, diz. Isso faz com que alguns pais tenham mais tranquilidade em atrasar os pagamentos.

Por conta deste cenário, Venturi explica que ainda é cedo para se falar em migração de matrículas da rede particular para a pública. Ele ressalta que o setor tem consciência de que esta realizadade não pode ser descartada em 2016. Mas acredita que não deva ser exagerada em função da própria legislação que prevê a obrigatoriedade da matrícula a partir dos 4 anos. Com isso, o número de alunos irá aumentar elevando a demanda por escolas, sejam elas particulares ou públicas, argumenta.

Além disso, Venturi revela que nos últimos 10 anos houve um crescimento de 22% no número de matrículas na rede particular de ensino e de 31% apenas na educação básica. Segundo Venturi, as matrículas do ensino básico estão divididas de modo igualitário entre o estado, município e rede particular.

Sobre redução de custos, com a possibilidade de haver um reajuste menor que a inflação — patamar usado como referência para os aumentos anuais —, Venturi a descarta de cara. Segundo ele, as escolas trabalham com uma margem muito baixa e os salários dos professores têm como referência a reposição da inflação, no mínimo.

A rede particular de ensino é formada por 6,3 mil escolas no Estado, sendo 1.700 de escolas regulares, 400 de idiomas ou academias, entre outras.

ENSINO SUPERIOR TAMBÉM SENTE A CRISE
O Semesp, Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior, divulga nesta semana sua 9ª Pesquisa de Inadimplência. Realizada anualmente com as instituições de ensino superior privadas, a pesquisa mostra que o índice de inadimplência do setor em 2014 interrompeu uma sequência de quedas de seis anos e projeta para este ano uma retomada preocupante.

Num cenário conservador, o levantamento da Assessoria Econômica do Semesp prevê a interrupção da sequência de quedas registradas desde 2009 e uma elevação acima de 7% em 2015. Com a elevação projetada, a taxa de inadimplência para mensalidades com mais de 90 dias de atraso deve subir de 7,8% em 2014 para 8,4% em 2015.

A entidade ressalta como variável de grande relevância para projetar esse aumento da inadimplência a interrupção da disponibilização do FIES durante todo ano. Até 2014, os alunos que porventura atravessassem algum período de dificuldade financeira poderiam acessar o financiamento estudantil a qualquer momento, mas com as restrições orçamentárias e as alterações nas regras do FIES para o segundo semestre de 2015 essa alternativa deixou de ser possível para os alunos.

Conforme mostra a pesquisa, o índice de inadimplência do setor apresentou um leve recuo de 7,87% em 2013, para 7,82% em 2014. Segundo o Semesp, a manutenção da inadimplência em patamares mais baixos ao longo dos seis últimos anos, até o final de 2014, foi reflexo não apenas do aperfeiçoamento dos processos de gestão das instituições, mas principalmente do crescimento do FIES.

O Banco central mede a inadimplência com base na metodologia Backward Looking, ou seja, mede considerando atrasos na carteira passada. A SERASA utiliza a metodologia Foward Looking, mensurando a inadimplência com base nas contas de provisões para créditos de liquidação duvidosa.

Sofrem
As instituições de pequeno porte, com até 2.000 alunos, continuam sendo as que mais sofrem com a inadimplência acima de 90 dias. E as de grande porte, com mais de 7.000 alunos, foram as que registram maior taxa de inadimplência até 30 dias. A pesquisa do Semesp traz dados sobre o ano de 2014, em comparação com 2013.

– 8% é a taxa de inadimplência média nas escolas particulares do Paraná levando em atrasos superiores a 30 dias

– 7% é o índice de aumento de inadimplência previsto para este ano pelo Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior