MARIANA CARNEIRO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Existe uma máxima na política argentina que afirma que o peronismo admite apenas um líder, e que os seus aliados devem se enfileirar atrás dele para apoiá-lo. Mas o cenário das eleições presidenciais deste ano é diferente.
Os peronistas -a mais numerosa força política do país- chegam divididos à votação deste ano. De um lado, está o governista Daniel Scioli, que recebeu a bênção da presidente Cristina Kirchner para defender sua gestão nas urnas.
Do outro, duas lideranças peronistas, de uma linhagem hoje auto-declarada “independente”, tentam mostrar-se como uma alternativa “nacional e popular” ao kirchnerismo. São eles Sérgio Massa e José Manuel de La Sota, que juntos somam 18% das intenções de voto de acordo com as mais recentes pesquisas eleitorais.
Em terceiro lugar na disputa, os dois representam um espaço político que tenta capturar os votos de peronistas que não estão de acordo com o kirchnerismo.
Segundo a última pesquisa da consultoria Giacobbe y Associados, com 1.500 entrevistados, quase um quinto dos eleitores se declarou peronista e um número menor (8%) disse ser kirchnerista.
CAMPANHA
Para o político Júlio Bárbaro, que integrou o governo Kirchner e hoje faz críticas a Cristina, o peronismo chega fraturado pelo kirchnerismo nestas eleições.
“O peronismo quer tirar de cima dele o kirchnerismo”, disse Bárbaro à reportagem.
Segundo ele, um indício é que Daniel Scioli, que até o momento se declarava fiel ao governo e posava ao lado de lideranças próximas a Cristina, passou nos últimos dias a seduzir peronistas históricos.
Na última semana, encontrou-se com governadores e prefeitos do grupo político. Nesta quinta (30), foi a vez de sindicalistas, outra base de sustentação dos peronistas.
“Scioli já conquistou a confiança dos kirchneristas e agora quer mostrar-se mais peronista do que kirchnerista”, afirma Bárbaro.
O racha interno está mexendo com a campanha eleitoral, já que acirrou a disputa por votos dentro do mesmo espectro político.
Nos últimos dias, enquanto Scioli foi atrás de peronistas independentes, Massa buscou votos nas províncias do norte do país, fiéis a Scioli. Já o cordobês De la Sota avançou sobre o território dos outros dois: a província de Buenos Aires.
“O peronismo independente sabe que Scioli é a cara do governo e apenas quer lhe dar um tom mais simpático”, afirmou De la Sota em entrevista à Folha. “Não tenho dúvidas de que os peronistas, se me veem triunfar nas primárias, vão me acompanhar nas eleições de outubro”.
De la Sota exprime uma das grandes dúvidas dessa eleição: como se comportará o eleitorado peronista depois das primárias. Seguirá dividido ou vai se enfileirar atrás de Scioli?
“Os governadores peronistas estão indo para o lado de Scioli numa atitude de auto-defesa. Sabem que os jovens do La Cámpora [movimento ultrakirchnerista] estão começando a entrar nas listas de deputados e logo vão jogá-los para fora do barco.”
De la Sota afirma que seguirá independente, fiel ao companheiro Sérgio Massa. Acredita que o aliado fará o mesmo se vencer as primárias. Companheiros de Massa, porém, ainda têm dúvidas.
“Se Sérgio ganhar vou trabalhar por ele em todo o país”, afirmou De la Sota, tentando espantar os boatos.