RENATA AGOSTINI
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil enfrenta uma recessão desde o segundo trimestre do ano passado, segundo cálculo do Codace (Comitê de Ciclos Econômicos), grupo criado em 2008 pela Fundação Getúlio Vargas para determinar os períodos de expansão e contração da economia do país.
De acordo com o comitê, a atividade econômica está em queda, portanto, há pelo menos quatro trimestres.
Não há previsão sobre quanto tempo a recessão atual deve durar. Mas já se trata do ciclo recessivo mais duradouro vivido pelo país desde o início de 1999, quando a economia saiu de um período de contração econômica de cinco trimestres.
“Todos os indicadores mostram que ainda estamos vivendo o processo recessivo e que devemos enfrentá-lo até pelo menos o final do ano”, afirma Paulo Picchetti, professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV e um dos sete membros do Comitê de Ciclos Econômicos.
Na estimativa de instituições financeiras e analistas de mercado, o país fechará 2015 com retração de 1,8% no PIB (Produto Interno Bruto) e seguirá em recessão no primeiro trimestre de 2016.
METODOLOGIA
O comportamento do PIB é o principal sinalizador da atividade econômica. Quando há recuo por dois trimestres consecutivos, considera-se que um país entrou em “recessão técnica”.
Para definir os períodos de recessão e expansão dos ciclos econômicos, no entanto, o Codace analisa um vasto número de indicadores. O desempenho do PIB, medido pelo IBGE, é somente um deles, embora tenha peso expressivo por ser o mais abrangente.
O comitê leva em consideração, por exemplo, a atividade industrial, a taxa de desemprego, as vendas no comércio varejista, os resultados das sondagens industriais, entre outros.
Segundo o grupo, o método usado assemelha-se ao adotado pelo Comitê de Datação dos Estados Unidos.
Pelo modelo do Codace, o Brasil viveu nove períodos de recessão desde o primeiro trimestre de 1981, início da série histórica.
A análise da série mostra que a duração dos períodos de recessão vinha diminuindo, enquanto a dos ciclo de bonança econômica expandia-se, uma consequência da estabilização monetária e financeira permitida pelo plano Real e do cenário internacional mais favorável a partir do início dos anos 2000.
MAROLINHA
Antes da crise econômica mundial, que eclodiu nos últimos meses de 2008, o país havia experimentado 21 trimestres consecutivos de expansão -um recorde na série a construída pelo grupo.
Do segundo trimestre de 2009, quando o país saiu da crise, até o primeiro trimestre de 2014, foram outros 20 trimestres seguidos de economia em crescimento.
Para Picchetti, o ciclo recessivo atual é reflexo das medidas tomadas pelo Brasil com o objetivo de acelerar a recuperação da sua última crise.
Na ocasião, o governo incentivou o crédito e o consumo das famílias para estimular a demanda doméstica. Para o ex-presidente Lula, enquanto o mundo enfrentava uma tsunami, o Brasil lidava com uma “marolinha”.
“Nessa de sermos os primeiros a sair da crise, aparentemente você criou uma série de desequilíbrios, que estão cobrando a conta agora. Saímos pelo lado da demanda tanto do lado de política monetária quanto de política fiscal. E os desarranjos basicamente se mostraram incontornáveis após as eleições presidenciais [do ano passado]”, diz Picchetti.