MARIANA CARNEIRO
BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A pouco menos de dois meses das eleições na Argentina, os três principais candidatos da oposição apareceram juntos nesta quarta-feira (26) para fazer críticas e pedir transparência ao processo eleitoral do país.
Maurício Macri, da aliança Cambiemos (Mudemos, em português), Sergio Massa, da UNA (Unidos por uma Nova Argentina), e Margarita Stolbizer, da frente Progresistas, fizeram um pronunciamento conjunto em que pediram que problemas ocorridos na província de Tucumán, no último fim de semana, não se repitam nas eleições de outubro.
Tucumán, no norte da Argentina, tem apenas 3,5% dos eleitores argentinos. Mas a tumultuada eleição do último domingo (23) contaminou a campanha nacional.
Urnas foram queimadas e a oposição denunciou supostas fraudes na contagem dos votos. Na Argentina, é o Poder Executivo quem controla o processo eleitoral.
O atual governador de Tucumán é José Alperovich, aliado da presidente Cristina Kirchner, que está a frente da província desde 2003.
No domingo, o presidenciável que representa o governo, Daniel Scioli, foi à província festejar a vitória do sucessor governista, Juan Manzur, que foi ministro de Cristina.
Nos dias seguintes ao pleito, porém, moradores de Tucumán foram às ruas em protesto contra as denúncias de fraude, e a oposição não reconhece o resultado.
Como os argentinos votam
A junta eleitoral, ligada ao Poder Judiciário, iniciou nesta terça (25) a contagem oficial dos votos, o que deverá levar dias. Enquanto isso, os presidenciáveis trocam acusações.
Nesta quarta (26), foi a vez de a presidente Cristina Kirchner defender seus aliados. “Não pedimos nada mais do que reconheçam os nossos triunfos, porque essa é a vida democrática”, afirmou Cristina, em discurso na Bolsa de Comércio.
Em suas palavras, a oposição está “desarvorada” e “louca” por não reconhecer a vitória do kirchnerismo em Tucumán. Os candidatos opositores defenderam a mudança do sistema eleitoral no país.
Sergio Massa propôs alugar urnas eletrônicas do Brasil para substituir o pleito em papel já nestas eleições. Mas o principal adversário desta ideia é o pouco tempo até 25 de outubro.
Macri defendeu o sistema que adotou na cidade de Buenos Aires, onde governa, em que o eleitor seleciona o candidato em uma máquina, imprime o voto e o deposita na urna. O voto é parcialmente eletrônico, mas elimina grande parte das manobras de sabotagem nas eleições.
O mais importante, contudo, foi a foto em que os três apareceram juntos, sugerindo uma soma das oposições contra o candidato do governo.
INFERNO ASTRAL
Para o analista político Pablo Knopoff, da consultoria Isonomía, Scioli enfrenta sua segunda crise em duas semanas. A primeira foi a viagem que fez à Itália no momento em que a província de Buenos Aires, que governa, estava afetada por alagamentos.
“Se esses acontecimentos não lhe tiram votos, brecam seu crescimento”, afirma Knopoff.
Isso reforça uma previsão de possível segundo turno na Argentina, cenário que beneficia a oposição. Para vencer no primeiro turno, Scioli teria que marcar 45% ou ter pelo menos 40% e uma diferença de dez pontos percentuais sobre o segundo.
Nas primárias, no dia 9, Scioli marcou 38,5%, contra 30% da aliança liderada por Macri. “Scioli tem que desenvolver ações que não sejam voltadas para o público interno, para os kirchneristas. E, sim, mirar o votante independente e não kirchnerista para alcançar os votos que lhe faltam”, diz Knopoff.