TATIANA FREITAS E CLAUDIA ROLLI SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Representantes da indústria brasileira reagiram aos planos do governo de recriar a CPMF. Para as principais entidades do setor, a imposição de um novo imposto agravará ainda mais a crise econômica. “Seria a maior burrice que esse governo poderia fazer”, afirma José Velloso, presidente-executivo da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos). “Por que o Joaquim Levy [ministro da Fazenda] não corta as despesas do governo? Por que ele dá uma abocanhada na renda do brasileiro?”

O presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Moan, lembrou que a CPMF é um imposto cumulativo, ou seja, com incidência em toda a cadeia de produção e no consumo, o que oneraria mais as empresas e os consumidores. “Nossa carga tributária já é demasiadamente alta. E um imposto cumulativo tem um efeito muito perverso para os ganhos de competitividade, especialmente numa cadeia longa de produção, como a automotiva”, afirmou. “Custo a acreditar que o governo vai levar essa proposta em frente”, acrescentou Moan, que também é diretor da GM.

A diretora de desenvolvimento econômico do sistema Firjan (Federação das Indústrias do Rio), Luciana de Sá, também destacou o “efeito perverso” da CPMF, que incide sobre todas as movimentações financeiras. “O fato gerador do imposto não é o consumo, não é a produção, não são as riquezas. Ele incide sobre as transações financeiras, o que significa que cada operação feita pela indústria terá um tributo a mais. É muito ruim em termos de eficiência e impõe um aumento de custos ao setor, por menor que seja a alíquota”, afirmou.

Segundo estudo da Firjan, a carga tributária representa 45% do PIB industrial e é um dos principais fatores para a perda de competitividade do setor. Para Humberto Barbato, presidente da Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica), a volta da CPMF caracterizaria uma “política anticíclica em direção ao crescimento econômico”. “O governo tem de parar de gastar. Espero que os parlamentares tenham sensibilidade e consciência da crise que estamos vivendo. A volta da CPMF seria jogar a última pá de cal na economia”, disse.

O setor da construção também criticou a estratégia do governo. “Está claro que o formato de aumentar impostos e reduzir investimentos não está funcionando e continuam insistindo nesse modelo”, disse José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). “A indústria da construção representa 50% do investimento e isso é um desastre ainda maior do que estamos vivendo: 500 mil empregos perdidos não é pouca coisa”, afirmou. A Associação Comercial de São Paulo (ACSP) reforçou o coro.

Para o economista da entidade, Emílio Alfieri, “a economia não suporta mais elevação de qualquer tributo”. Ele lembra que em 1997, quando a CPMF foi instituída em caráter de emergência e provisório, a carga tributária era de apenas 25% do PIB. Atualmente, a carga já está em mais de 35% do PIB, ou seja, subiu mais de 10 pontos percentuais. “A carga tributária de hoje é como se tivesse mais de 10 CPMFs”, diz Alfieri. “Se houver qualquer outro aumento de carga, essa recessão será aprofundada ainda mais, de forma que o governo precisa controlar os seus gastos.”