Pessoas que tiveram poliomielite há pelo menos 15 anos estão suscetíveis a uma alteração neurológica conhecida como síndrome pós-pólio. O problema se manifesta em homens e mulheres com cerca de 40 anos que, quando foram infectadas pelo vírus da poliomielite, apresentaram forma aguda ou sem sintomas da doença.

O risco da síndrome reforça a importância da vacina contra a poliomielite. A campanha de vacinação contra a doença, direcionada a crianças com idade a partir de seis meses e menores de 5 anos, segue até 31 de agosto, concentrada nos dias úteis, em todas as 109 unidades básicas de saúde da capital.

Na síndrome pós-pólio, as funções musculares estabilizadas após a recuperação da poliomielite voltam a ser comprometidas após um longo intervalo de tempo. Isso ocorre devido ao desgaste dos neurônios motores que sobreviveram ao vírus da doença e tiveram de trabalhar mais para compensar a perda das células afetadas pela pólio.

A síndrome foi reconhecida recentemente no âmbito internacional como uma doença e a atenção primária tem importância fundamental para identificá-la e iniciar o tratamento dos sintomas. Neurologistas, ortopedistas e outros especialistas também fazem parte desse processo para que as pessoas com a síndrome sejam atendidas adequadamente. O grande desafio é capacitar todos os profissionais para que conheçam a doença, afirma o secretário municipal da Saúde, César Monte Serrat Titton.

Em Curitiba, pacientes diagnosticados com a síndrome podem ser encaminhados pelas unidades básicas de saúde à Associação Paranaense de Reabilitação (APR) e ao Centro Hospitalar de Reabilitação do Paraná (CHR), serviços de referência do Sistema Único de Saúde (SUS) na capital, responsáveis pelo tratamento dos usuários e pelo fornecimento de órteses e próteses.

Ao ser encaminhado, o paciente passa por uma triagem e por uma avaliação global, feita por neurologistas, médicos e terapeutas. A partir disso, é traçado um plano terapêutico que apontará o que é necessário ser feito. Após um tempo, o paciente é reavaliado, explica o chefe do Centro de Estudos, Pesquisa e Desenvolvimento Humano do CHR, Irajá de Brito Vaz.

A psicóloga Maria Clementina Menghini Mendes, responsável pelo Centro de Psicologia Aplicada da Universidade Federal do Paraná (UFPR), conta que já teve contato com pelo menos 300 curitibanos com síndrome pós-pólio. A doença é muito desconhecida. Não conseguimos ter uma estimativa de quantas pessoas foram afetadas por ela. É uma síndrome progressiva que requer cuidados para que os pacientes tenham melhor qualidade de vida, afirma.

A dona de casa Marilene da Luz Szemczak, 47 anos, diz ser uma sobrevivente da poliomielite. Ela contraiu o vírus da doença quando tinha 11 meses de vida e conviveu ao longo da vida com sequelas na perna esquerda. Aos 38 anos, os primeiros sintomas da síndrome pós-pólio apareceram, mas a comprovação da doença só veio seis anos depois, em 2012.

Foi uma fase muito difícil. Sempre fui uma pessoa muito ativa e, de repente, deixei de conseguir andar o que eu estava acostumada e o serviço de casa estava difícil para mim. A doença abate muito mais o emocional a partir do momento que nos vemos limitados fisicamente. Até hoje tenho dificuldade de aceitar isso, relata Marilete, militante da capacitação dos profissionais da saúde – para que saibam identificar e orientar sobre a doença – e da busca por direitos aos que convivem com a síndrome.

Sintomas

Os principais sintomas da síndrome são fraqueza muscular progressiva, dores musculares e/ou articulares, atrofia muscular, cãibras, dor de cabeça, dificuldade para deglutir, intolerância ao frio, distúrbios do sono, insuficiência respiratória, depressão e ansiedade – sinais que comprometem a qualidade de vida dos usuários. O diagnóstico é baseado no histórico e no quadro clínico do paciente, já que não há um teste específico para confirmar a síndrome.

Sem um tratamento específico, as dores e o comprometimento da locomoção provocados pela síndrome pós-pólio podem ser atenuados com um trabalho multidisciplinar, que envolve atividades aeróbias leves, alongamentos, orientação nutricional, exercícios para a redução do estresse e medicamentos para controlar a dor. Diante da flacidez muscular, o paciente passa a necessitar de equipamentos que deem suporte e auxiliem no deslocamento, como bengala e cadeira de rodas.

A pólio

A poliomielite é uma doença altamente infecciosa provocada por um vírus, que afeta o sistema nervoso e pode provocar quadros de paralisia. Os sintomas iniciais são febre, cansaço, dor de cabeça, vômitos, rigidez no pescoço e dores nos braços e nas pernas. Indicadores apontam que uma em cada 200 pessoas infectadas pelo vírus apresenta paralisia irreversível, geralmente nas pernas.

Curitiba está há três décadas livre do vírus, o último caso é de 1985. No Brasil, os dias nacionais de vacinação contra a doença tiveram início em 1980 e este é o 26º ano sem registro de poliomielite no país. Desde 1994, quando recebeu o certificado internacional de Erradicação da Transmissão Autóctone do Poliovírus Selvagem, o Brasil tem o compromisso de manter ações ativas como forma de evitar a reintrodução do vírus em seu território.