BELA MEGALE E GRACILIANO ROCHA SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Ministério Público Federal denunciou o presidente licenciado da Eletronuclear, almirante da reserva Othon Luiz Pinheiro da Silva, e ex-executivos das empreiteiras Andrade Gutierrez e Engevix por integrarem uma organização criminosa, suspeita de fraudar licitações, distribuir propina e lavar dinheiro desviado da obra da usina nuclear de Angra 3. A Procuradoria pediu à Justiça que 15 pessoas respondam a ação penal, entre as quais os ex-executivos da Andrade Gutierrez e da Engevix. A denúncia é o desdobramento da fase batizada de Radioatividade da Operação Lava Jato, que resultou na prisão do almirante, em julho. Posteriormente, sua prisão foi convertida em preventiva (sem prazo determinado). A reportagem ainda não conseguiu contato com a defesa dos envolvidos. Othon Luiz é considerado o cérebro por trás do programa nuclear brasileiro. Nas décadas de 1970 e 1980, ele comandou o programa secreto da Marinha que permitiu ao Brasil enriquecer urânio para que pudesse ser usado como combustível para gerar eletricidade. Aposentado da Marinha desde 1994, ele vinha presidindo a Eletronuclear nos últimos dez anos. Na peça de 135 páginas, os procuradores dizem que o cartel das empreiteiras “naturalmente se expandiu” e replicou as práticas de corrupção na Eletronuclear que já adotava na Petrobras. Isto é, em troca de favorecimento nos contratos, pagava propinas a dirigentes de empresas estatais por meio de falsos contratos de consultoria firmados entre as empreiteiras e empresas de fachada. No caso de Angra 3, a Procuradoria afirma que houve corrupção em contratos e uma série de aditivos a partir de 2007. Os pagamentos de propina começaram em 2009, ano de retomada efetiva da obra, e maio deste ano. Ao todo, a Procuradoria afirma que R$ 4,5 milhões foram pagos pela Andrade Gutierrez e Engevix como propina -dos quais, após passar por intermediários, caíram R$ 4,1 milhões na conta da Aratec, firma de consultoria do almirante Othon Luiz. O dinheiro saía da Andrade Gutierrez e da Engevix, passava por firmas de intermediários que então o retransferia para contas controladas pelo almirante -o modelo, segundo a Procuradoria, visava apagar o rastro da propina, não ligando diretamente o então presidente da Eletronuclear às empreiteiras que tocavam as obras de Angra 3. Em pelo menos um caso, a Engevix realizou um depósito R$ 33 mil diretamente na conta da Aratec. NO EXTERIOR No curso da investigação, o Ministério Público Federal também localizou US$ 185 mil (R$ 677 mil, pelo câmbio desta terça-feira, 1º) em uma conta bancária em Luxemburgo, que é atribuída ao almirante Othon Luiz. O dinheiro está depositado no banco Havilland em nome de uma empresa offshore chamada Hydropower Enterprise Ltd. Além das transações bancárias, a acusação também está baseada em e-mails trocados pelos executivos das empreiteiras e no depoimento de delatores que passaram a cooperar com os investigadores em troca de redução de pena. A denúncia apresentada na segunda (31) não esgota a apuração de desvio de recursos de Angra 3. Outras integrantes do consórcio Agramon -que toca a obra- também são investigadas: Odebrecht, UTC, Camargo Corrêa, Techint, EBE e Queiroz Galvão. Bastante genérica, a única menção ao envolvimento de partidos políticos veio de depoimento de Dalton Avancini, ex-presidente da Camargo Corrêa e que era delator. Segundo ele, parte do faturamento das empreiteiras com as obras de Angra 3 eram divididos com dirigentes da Eletronuclear e com partidos.