ITALO NOGUEIRA
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Ex-presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Durão Barroso criticou nesta terça-feira (1º) ações do governo da Hungria na crise imigratória por que passa o continente.
Barroso disse que Budapeste não deveria ter liberado a ida de refugiados que passaram pelo país para a Alemanha e Áustria, como fez nesta segunda (31).
A prática contraria o acordo dos países do bloco europeu de livre trânsito no continente, o chamado Espaço Schengen. A estação de trem da capital húngara foi fechada nesta terça.
“Há um esforço da Comissão Europeia para que os países mostrem mais solidariedade, partilhem os refugiados. Há uns que estão dispostos a isso, e outros não. Alguns governos não estão fazendo isso. A Hungria está se beneficiando da ajuda da União Europeia. Recebe bilhões de euros. Portanto também podia criar algo para as pessoas que vêm de países com mais dificuldades”, disse Barroso, após palestra na Universidade Estácio de Sá, na zona oeste do Rio.
O português também criticou o governo húngaro pela construção de um muro na fronteira com a Sérvia. Atualmente, o limite dos dois países é demarcado por uma cerca, que será substituída por um obstáculo de quatro metros de altura.
“Estamos assistindo à construção de um muro na Hungria. Eu não gosto de muros. Não gostava do muro de Berlim, nem daqueles muros que as milícias da extrema-direita americana fizeram contra o México, nem o que está entre Israel e a Palestina”, disse o português.
Os controles de fronteira entre europeus foram eliminados em 1995 com a criação do Espaço Schengen, hoje com 26 países.
Pelas regras, contudo, os solicitantes de asilo devem fazê-lo no primeiro país do bloco que entrarem -o que geralmente é ignorado por imigrantes que desejam chegar nos destinos mais prósperos do continente.
O governo alemão espera receber 800 mil pedidos de asilo neste ano, quase quatro vezes o total de 2014 e mais do que qualquer outro país da UE, que lida com seu maior influxo de refugiados desde a Segunda Guerra (1939-45).
INVESTIMENTO
Presidente da Comissão Europeia por dez anos, Barroso afirmou que o continente deve ampliar os investimentos nos países da África e do Oriente Médio a fim de reduzir a crise em territórios vizinhos.
“A Europa já faz muito nesses países em termos de ajuda ao desenvolvimento. Agora o problema tem uma magnitude muito maior. Isso vai exigir um esforço estruturante. Não pode ser só um paliativo, ajudar só com os mecanismos de ajuda humanitária tradicional. Infelizmente isso não depende só de ajuda internacional. Se não houver uma resposta interna, não é de fora que se consegue impor a paz”, declarou o português.
Durão Barroso afirmou que o aumento no número de refugiados na Europa pode fortalecer partidos de extrema direita. Ele disse que alguns países do continente “não tem experiência de lidar com imigração”.
“Há países europeus em que não há presença muçulmana ou mesmo de africanos. Nas áreas do centro-leste, nunca houve interação real com a África.”
O português disse, contudo, que reações extremistas têm ocorrido em todo o mundo. Citou, como exemplo, os Estados Unidos. Ele criticou declarações recentes do pré-candidato republicano Donald Trump. “Agora tivemos o sr. Trump com declarações xenófobas e racistas contra os mexicanos.”