SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com a queda de 1,9% do PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre, a maioria dos economistas acredita que o Banco Central deve manter a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano na reunião que termina nesta quarta-feira (2).
A manutenção da taxa básica é a projeção de 51 dos 56 economistas ouvidos em pesquisa da agência internacional Bloomberg. Outros cinco acreditam que o BC pode elevar a Selic em 0,25 ponto percentual, até 14,5% ao ano.
A expectativa de que a Selic continue em 14,25% também é ancorada em declaração de Luiz Awazu Pereira, diretor de Política Econômica do BC. Em agosto, ele afirmou que a taxa básica deve ficar no patamar atual por período “suficientemente prolongado”.
A avaliação de quem vê o juro inalterado é que a inflação deve começar a ceder após o terceiro trimestre. O IPCA acumulado em 12 meses até julho foi de 9,56%. Até o fim de 2015, economistas ouvidos na pesquisa Focus, do Banco Central, veem o índice oficial em 9,28%. Em 2016, a estimativa é que o IPCA termine em 5,51%.
Ao elevar a Selic, o BC tentar conter o aumento dos preços, pois torna os empréstimos mais caros. Com isso, inibe o consumo, o que contribuiria para o controle da inflação. No entanto, com a perspectiva de que os sucessivos aumentos da Selic -foram sete até agora desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff- comecem finalmente a afetar o IPCA, a autoridade monetária optaria por deixar a taxa em seu atual patamar.
Além disso, a desaceleração da economia preocupa. O país atualmente está em recessão, condição caracterizada por dois trimestres seguidos de queda do PIB. O indicador de produção industrial divulgado nesta quarta-feira reforçou o pessimismo em relação ao desempenho econômico ao mostrar forte queda de 1,5% na passagem de junho para julho.
INFLAÇÃO NO RADAR
Na avaliação de Alberto Ramos, economista do banco americano Goldman Sachs, “embora a economia continue a enfraquecer e o mercado de trabalho esteja se deteriorando a um ritmo mais rápido que o anteriormente previsto, a inflação projetada para o final de 2016 não aumentou, embora tenha continuado acima da meta estabelecida pelo governo de 4,5%.”
A desvalorização do real em relação ao dólar é um dos fatores que pressionam a inflação, que só deve efetivamente convergir para o centro da meta a partir de 2017, afirma Ramos. Em 2015, a moeda americana já acumula alta em torno de 40% sobre a divisa nacional.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, afirma que “apesar de o cenário para a inflação no Brasil ter se deteriorado desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária do BC), com acentuada depreciação do real, o Banco Central parece confiante que o atual nível da taxa de juros é suficiente para empurrar a inflação para o centro da meta no próximo ano”.
A expectativa de economistas é que a Selic deve voltar a ceder no próximo ano, mas o ritmo da queda vai ser determinado pelo efeito da desaceleração da economia chinesa e a melhora do cenário fiscal brasileiro sobre a taxa de câmbio.
“O cenário negativo das moedas emergentes com a China e a dinâmica recente do real/dólar ‘tiram força’ de recuo da taxa Selic no segundo trimestre de 2016. Nosso cenário base para a flexibilização monetária é de 12,5% até o final de dezembro de 2016”, disse Eduardo Velho, economista-chefe da gestora Invx Global.