MARIA CLARA MOREIRA
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em um português tímido e fluente, Kaya Scodelario, 23, explica a Giancarlo Esposito, 57, que não é uísque em seu copo mas, sim, guaraná. “É o refrigerante mais comum no Brasil”, diz ela aos reunidos na entrevista coletiva de “Maze Runner: Prova de Fogo”, filme que os atores promovem no Brasil.
Filha de mãe brasileira e pai inglês, a britânica Kaya (que viveu por sete temporadas a Effy, do seriado britânico “Skins”) parece à vontade em São Paulo, onde compareceu à première do longa no Cine Livraria Cultura na última terça-feira (1º). A recepção dos fãs emocionou a atriz.
“Minha voz está estranha de tanto chorar ontem. Foi o dia mais emocionante da minha vida. Eu tinha minha família lá, meu tio, minha tia, meus primos”, conta, puxando o sotaque carregado de Itu, cidade a 101 km de São Paulo onde moram seus familiares.
Na sequência de “Maze Runner”, longa de 2014, Kaya reprisa o papel de Teresa, única menina do grupo de “clareanos”, antes presos no labirinto que dá nome ao filme. Em “Prova de Fogo”, Thomas (Dylan O’Brien) e os amigos já escaparam do ambiente de testes da organização Cruel, mas descobrem que ainda não estão livres.
A saga (a ser concluída só em 17 de fevereiro de 2017, com “A Cura Mortal”) é uma adaptação dos livros do americano James Dashner, com mais de 10 milhões de cópias vendidas, segundo a editora Random House Children’s Books.
A devoção dos fãs do livro impressionou Giancarlo Esposito, veterano da TV americana e conhecido no Brasil como o Gus de “Breaking Bad” -em “Prova de Fogo”, ele é o mercenário Jorge. “A literatura é muito importante. É muito legal ver pessoas inspiradas por esses livros.”
Kaya aprovou a adaptação da história, que apresenta mudanças substanciais ante a trama original. “Acho que a maneira como adaptamos é muito interessante. Teria sido mais fácil copiar tudo, mas contamos a história do jeito que gostaríamos. Criamos um híbrido mais interessante.”
Esposito concorda: “Eu gosto da ideia de que um filme deve ter movimento. Com três romances, você separa as melhores partes, integra e expande todas. Nosso diretor [Wes Ball] tinha uma visão e ele conseguiu passá-la para o roteirista”.
O resultado das mudanças é um filme com ação do início ao fim, que exigiu preparação física de seus atores. “Nós tínhamos uma semana para treinamento físico, mas preferimos jogar videogame”, brinca Kaya. “Acho que é uma coisa boa. Esses jovens são garotos normais, é bom que não corram como Tom Cruise”, ri.
FEMINISMO
Talvez a principal novidade em “Maze Runner: Prova de Fogo” seja a introdução de personagens femininas -o primeiro filme contava apenas com Scodelario e Patricia Clarkson, com poucos minutos de tela-, entre elas, Brenda, jovem que mantém uma relação paternal com Jorge, personagem de Giancarlo Esposito.
Interpretada por Rosa Salazar (que também atua na franquia “Divergente”), ela desempenha um papel importante na trama: como é comum em blockbusters adolescentes (as sagas “Crepúsculo” e “Jogos Vorazes” são exemplos), o segundo filme sugere um triângulo amoroso entre o protagonista Thomas, a Teresa de Scodelario e a nova personagem.
Kaya conta ter ficado apreensiva antes de conhecer Salazar. “Nós [o elenco do primeiro filme] somos como uma família, então fiquei um pouco nervosa, mas ela é incrível. Rosa trouxe uma energia ótima, o fato dela ser mulher é irrelevante.”
As atrizes tomaram cuidado especial para não retratarem suas personagens como simples rivais que disputam a afeição do herói.
“A personagem da Rosa é alguém em quem Teresa não confia, mas não por ser outra mulher, mas porque ela não confia em ninguém. Rosa e eu discutimos muito sobre, decidimos que não olharíamos com desprezo uma para a outra em cena”, afirma Kaya, ressaltando a sutileza do triângulo amoroso, que não desvia a atenção da trama principal.
Segundo Scodelario, os homens do elenco a tratam “como amiga, não como mulher”, postura nem sempre repetida pelo restante da indústria. Feminista, ela chama a atenção para o termo “atriz”, que rejeita. Prefere ser chamada de ator.
“É uma escolha pessoal. Acredito que o meu trabalho é o mesmo de qualquer homem que também atue. Eu entendo a palavra ‘atriz’ e não sou contra ela, mas prefiro ‘ator’. As coisas estão mudando, muitas mulheres do ramo estão denunciando o fato de não receberam o mesmo que os homens, mostrando seu descontentamento. A época em que vivemos é empolgante.”
DISTOPIA ESPERANÇOSA
Como em “Jogos Vorazes” e “Divergente”, o futuro retratado em “Maze Runner: Prova de Fogo” é devastador. Giancarlo Esposito diz acreditar em uma fascinação dos jovens com a temática distópica.
“Acho que os jovens têm dificuldade em encontrar esperança no mundo. Ele muda muito rápido. Os mais novos se perguntam se terão um futuro e se voltam ao entretenimento para obterem a resposta. Espero que o futuro não seja tão ruim quanto em ‘Maze Runner’, onde tantas pessoas morrem”, brinca o ator.
Esposito se interessa pela tema. Leu muitos livros sobre o assunto, diz, incluindo a saga de James Dashner completa. O diferencial de “Maze Runner”? “Ele carrega uma mensagem de esperança: As pessoas podem sobreviver e não desistirão até criarem um mundo onde possam viver juntas.”