REYNALDO TUROLLO JR.
BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Presidente do BNDES de 2006 a 2007, durante o governo Lula, o economista Demian Fiocca prestou depoimento nesta quinta-feira (3) à CPI que investiga os contratos de financiamento do banco estatal de fomento. Ele fez uma defesa abrangente das políticas do banco -de financiamentos a obras no exterior a aportes de recursos do Tesouro- e afirmou que não há, na sociedade, sentimento de corrupção em relação à atuação da instituição.
“Não existe, de maneira nenhuma, sentimento ou percepção de corrupção envolvendo o BNDES. O trabalho do banco é respeitado. Essa é a convicção que eu tenho”, afirmou.
Em consonância com o depoimento do atual presidente, Luciano Coutinho -que foi ouvido na CPI na semana passada, Fiocca afirmou que o banco adota critérios técnicos rigorosos para selecionar os projetos em que vai investir, inclusive na análise das garantias, e trata de forma isonômica e impessoal todas as empresas que o procuram.
Questionado por deputados da oposição, Fiocca defendeu o aporte de recursos do Tesouro Nacional para o BNDES, principalmente em 2009 e 2010, quando o banco virou um “instrumento de reação à crise internacional”, política que avaliou como bem-sucedida.
Indagado sobre uma aparente contradição entre o aumento do desembolso do banco durante o período de menor crescimento do PIB, como ocorreu sob a gestão Dilma Rousseff, o economista respondeu que o governo deve estimular a economia justamente quando o mercado está desaquecido.
Para a oposição, essa foi uma das razões da atual crise fiscal vivenciada pelo governo.
OBRAS NO EXTERIOR
Sobre financiamentos à exportação de bens e serviços, intensificados nos governos petistas com obras em países da América Latina, como Cuba e Venezuela, e na África, Fiocca afirmou que essa é uma política de governo que gera emprego e renda no Brasil -onde são desenvolvidos, por exemplo, os projetos de engenharia- e que também ajuda na balança comercial do país.
Nessa linha, o ex-presidente do banco estatal contrapôs as políticas adotadas nos governos petistas às da década de 1990, quando o BNDES ajudou a viabilizar as privatizações no governo de Fernando Henrique Cardoso.
Fiocca evitou responder questões polêmicas e pontuais, como as que envolveram os grupos EBX, de Eike Batista, e JBS. Ele justificou que as operações com esses grupos foram feitas fora de sua gestão, que se estendeu de março de 2006 a maio de 2007.
O economista foi vice durante a gestão de Guido Mantega (2004-2006) e o sucedeu na presidência do BNDES. Mantega também foi convocado pelos deputados para depor na CPI. Sua oitiva será no próximo dia 29.