LUIZA FRANCO
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Inaugurado na última quinta-feira (3) no lançamento da Bienal do Livro, o espaço Agent & Business Center é uma parceria inédita da organização do evento realizado no Rio com a Feira de Frankfurt, a principal feira do mercado editorial mundial, que acontece em outubro na cidade alemã.
Durante seus três primeiros dias, agentes literários e outros profissionais da área poderão negociar títulos, tal como acontece na feira alemã.
Aos poucos, a Bienal quer acrescentar à sua vocação de evento para o público a função de centro de negócios.
“A prioridade continua sendo o contato com o público, mas também queremos solidificar a área de negócios, fazendo disso o foco pelo menos do primeiro dia. Neste ano também aumentamos a programação de eventos para o mercado”, diz Marcos da Veiga Pereira, presidente do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livro).
Participam da iniciativa 17 empresas. São agentes e editores de várias áreas do mercado, de livros técnicos aos infantis. Entre os principais nomes estão a Vintage Books, uma divisão da Penguin Random House, e a agência Wiley.
Todas elas estão mais interessadas em vender direitos de livros estrangeiros para o Brasil do que comprar projetos brasileiros.
Enquanto isso, o momento é de encolhimento no mercado editorial brasileiro. Pela primeira vez neste ano, de 13 de julho a 9 de agosto de 2015, o setor teve retração tanto em volume (- 5,5%), quanto em faturamento (- 3,1%), em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo dados do Sindicato Nacional dos Editores de Livros e o Instituto de Pesquisa Nielsen
Se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé. Segundo a vice-presidente da Feira de Frankfurt, Marifé Boix-Garcia, o número de editoras brasileiras inscritas até agora para esta edição da Feira caiu de cerca de 40 em 2014 para cerca de 30 em 2015.
“Muitos dos nossos parceiros estão dizendo que não poderão ir a Frankfurt por causa do câmbio desfavorável, por isso é tão importante estarmos aqui neste ano”, diz a representante da agência de Wiley, Sue Mattingley.
Agentes e editores estrangeiros dizem aprovar a iniciativa. “Já tem pelo menos cinco anos que editores estrangeiros vêm à Bienal, mas antigamente a gente tinha que comprar um estande nosso, o que é caríssimo e não faz sentido porque nossos livros estão em língua estrangeira, ou encontrar encontrar o parceiro no estande dele ou no café, e era muito barulhento, uma bagunça. Este evento era para crianças, não para negócios”, diz o italiano Luca Caprigliani, da Moon SRL, que vende direitos de livros infantis.
Moon recomenda que, nas próximas edições, a organização da Bienal ajude a estabelecer contato entre editoras que têm perfil similar e podem fazer negócios, como faz a Feira de Frankfurt.
VITRINE
“Num ano fraco de venda de livros, a Bienal se torna ainda mais importante”, diz o presidente do Snel.
É, também, uma oportunidade de chamar a atenção do público para as agruras do mercado.
O Snel lançou na inauguração da Bienal uma petição pública pela manutenção dos programas governamentais de incentivo à leitura e alfabetização.
Um grande motivo de preocupação para a indústria este ano foi o cancelamento por parte do governo de diversos programas de compra de livros de literatura.
Para o gerente de marketing e do departamento comercial da editora Leya, Giovanni das Graças, a Bienal, mais do que uma oportunidade comercial, é uma chance de mostrar para as livrarias que os livros ainda têm público.
“O custo de estar aqui é muito alto, com aluguel de estande e outros gastos, então temos que vender muito para compensar. Por outro lado, é nossa chance de mostrar para as redes que o livro está vivo. As livrarias andam muito relutantes em comprar”, diz ele.