FERNANDA GODOY BARCELONA, ESPANHA (FOLHAPRESS) – O movimento pela independência da Catalunha obteve uma vitória histórica neste domingo (27), ao conquistar maioria absoluta no Parlamento regional. As eleições ganharam caráter plebiscitário devido à determinação do grupo vitorioso de iniciar unilateralmente um processo de independência que é recusado pelo governo da Espanha.

A coligação Juntos pelo Sim, do governador Artur Mas, da centro-direitista CDC (Convergência Democrática da Catalunha), e da ERC (Esquerda Republicana da Catalunha), obteve 62 das 135 cadeiras. Com apoio do CUP (Candidatura de Unidade Popular), partido radical de esquerda que elegeu dez deputados, a coalizão superará a marca de 68 assentos (maioria) e levará adiante o projeto de independência da região.

Houve participação recorde de 77% dos 5,5 milhões de eleitores. No entanto, no voto popular, os partidos pró-independência não obtiveram maioria dos votos válidos, ficando com 48%. Pouco após as 22h (17h em Brasília), os líderes do Juntos pelo Sim discursaram sob os aplausos de seus seguidores.

“O ‘sim’ ganhou. Fazia tempo que trabalhávamos para obter um mandato explícito pela independência da Catalunha e agora o conseguimos”, disse Oriol Junqueras, líder da ERC. O clima épico do final da campanha tomou conta de Barcelona no fim de semana, quando milhares de pessoas tomaram as ruas enroladas na “estelada”, bandeira do movimento separatista.

Artur Mas insistiu na legitimidade conquistada, porém prometeu dar atenção aos eleitores que votaram contra. “Esta é uma vitória que administraremos com sentido de coesão dentro da Catalunha e com sentido de concórdia com respeito à Espanha, à Europa e ao mundo”, disse.

Desafio

O desafio independentista lançado por Mas gerou incertezas. Até o nome que comandará o governo é dúvida. Artur Mas é o quarto nome da lista do Juntos pelo Sim, encabeçada pelo ex-eurodeputado verde Raul Romeva. Ele anunciou ter um acordo para seguir no comando, porém sua liderança é questionada por deputados da CUP cujos votos podem ser vitais. Mas conduziu um debate áspero com o governo conservador de Mariano Rajoy (PP), chegando a ameaçar deixar de pagar as dívidas da Catalunha com a União.

Para conter o ímpeto secessionista, Rajoy propôs ampliar o poder do Tribunal Constitucional, agilizando penas como a suspensão de governantes que descumpram decisões judiciais. A guerra judicial que provavelmente será travada deverá levar instabilidade à Catalunha, origem hoje de mais de 18% do PIB da Espanha.

Os rumos de uma possível negociação com o governo federal dependerão do resultado das eleições gerais previstas para 20 de dezembro. O PP de Rajoy sai como o principal derrotado deste domingo, tanto pelo fracasso de sua política inflexível em relação à Catalunha, quanto pelo inexpressivo resultado obtido localmente: apenas 11 deputados eleitos. O PSOE (social-democrata), principal alternativa ao PP, defende uma reforma constitucional que permita um “novo encaixe” da Catalunha, com maior autonomia para os Estados.